quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Afinal, que diabo é Gourmet?!?

By Tavares 512   Posted at  11:26   missaogourmet



Acompanhei, ultimamente no Facebook, algumas publicações inflamadas com o termo gourmet. Numa delas, o amigo querido Sérgio Sobreira, fino, doutor em Cultura e Sociedade pela Ufba e professor na mesma, também apreciador da boa gastronomia (sim, eu disse boa), resume singelamente em protesto: "Gourmet de c* é r***!"

O Missão Gourmet da semana não terá receitinha do amor, mas se empenhará em explicar por que concorda com Sérgio, ainda que leve no nome desta coluna a palavrinha.

Comecemos com “what the fucking hell significa gourmet" afinal? Apesar de não haver tradução literal na língua portuguesa para a palavra de origem francesa, basicamente o termo está associado à haute cousine, outro termo français - e aí agora vocês me dão um tiro. Finalmente, o nome na maioria das vezes acompanha a ideia de cozinha ou produção gastronômica que envolve cultura e arte culinária. Envolve produtos ou refeições, os especialistas ou os apreciadores com conhecimento ou entendimento diferenciado em culinária.

Até aqui diboua, queridjinhas. Mas em tempos de #ostentação #luxúria em que niego vai pro Parque de Exposições pra tomar um banho de Champagne, tomar um banho de Chandonnn filha, porque o que vale mesmo não é apreciar uma garrafa de Dom Pérignon, mas a foto que vai pras redes sociais com o cabelo molhado da bebida que você demorou 3 horas pranchando no salão do bairro. 

É neste momento particular que tem aparecido o que eu chamaria aqui de oportunismo gourmet. Serviços e produtos sendo criados/modificados e requalificados como gourmet pra saciar a sede dessa leva de consumidores ávidos por se destacarem em seu círculo social. Aquele tipo de gente que bate de carrão rebaixado, mas mora de aluguel e pendurou a conta da pobre da cabeleireira e da maquiadora da Mary Kay que suou pra tentar reproduzir aquele visual da foto da Kim Kardashian que a bonita levou.

É neste momento, minha gente, que nascem coisas do tipo: brigadeiro gourmet. Aquela iguaria nacional que é boa de comer mesmo de pijama furado e de colher, e que agora invade eventos de gente da high society e ganha a sua versão com flocos de ouro comestível. Apenas parem! Euzinho neste momento estou lambendo as minhas jóias e, fia, tem gosto de nada. 

Gourmet mesmo são as avós (ou a maioria delas). A minha, por exemplo, semi-analfabeta, que criou os filhos a base de muito esforço cozendo tijolos, foi uma das maiores culinaristas que já conheci. Uma mulher simples, mas que, para além do domínio de técnicas gastronômicas, estava sempre atenta à origem/qualidade das matérias-primas de suas gostosuras. Ela tinha seus fornecedores favoritos nos mercados, que eram outros especialistas naquilo que produziam/vendiam. Eu já a acompanhei, quando pequeno, numa de suas idas à feira e, bicho, a véia demorava uma manhã inteira no mercado, batendo papo com os feirantes e aprendendo com eles. Ela, pra ficar satisfeita com uma simples sopa de legumes, tinha que comprar um corte específico de carne de um açougueiro específico. Ela mesma a serenava, num processo demorado de curar e salgar a carne, ela mesma preparava a massa. O caldo de carne/legumes, que hoje costumamos comprar em tabletes (puro sódio), era preparado por ela mesma. E, por fim, ela matava a gente de satisfação, e satisfação era o que eu via no rosto dela por se exibir como a vovó gourmet que era. Uma negra linda em seu coque impecável e seus vestidos com aplicações de crochê que ela mesma cozia. 

Concordo com Sérgio que pensa que devemos valorizar os procedimentos culinários e os produtos que são nobres pela forma como são preparados, que levam ingredientes excelentes e que se relacionam com a cultura/história de um determinado lugar. Pra muita gente é apenas frescurite pra encarecer comida, mas a confecção de um prato, a ciência da combinação correta dos sabores para a criação de outro sabor final, o entendimento da logística dos fornecedores e das matérias-primas disponíveis, das necessidades nutricionais, estar atento às novidades, etc..., (ufa!) às vezes significa pagar mais caro, lamento. 

Esse mais caro é apenas o reconhecimento de uma produção artesanal e que preza basicamente pela qualidade e excelência. E esse mais caro, sim, quando eu posso, eu topo. Porque não tá fá$$il pra ninguém. E, sim, eu disse “artesanal”. Tem muito produto com nome de gourmet em pacotinhos, oriundos de cadeia de produção mecanizada. Gourmet não é publicidade, meu povo, não é Mac Donalds com manteiga de ervas. Gourmet não é impessoal, não é produzido por máquina. Pra mim, gastronomia de qualidade é produzido pelas mãos de alguém que sente, no mínimo, algum afeto ao que vai ser apresentado à mesa.

Soube de um casal de chefs que amam aventuras e acampamentos, e criaram para aqueles que curtem ir pro meio do mato versões ensacadas gourmet. Que tal tu ir pro Vale do Capão na Chapada Diamantina e degustar um maravilhoso Risoto de Cogumelo com Ervas? 

Ôh, fi, eu deixo tu desejar até comer um teiú grelhado, eu deixo tu até querer comprar um baseado gourmet de uma maconha que foi regada com conhaque escocês e finalmente envolto em folhas de uma parreira que dá uma uva só em cada cacho, deixo até colocar uns flocos de ouro, e ter uma onda ouvindo Bach ecoando das cachoeiras, mas pare com risoto gourmet em pacotinho que lhe meto a mão na cara.

Então, apenas concordando... Gourmet de c* é r***, SIM! Beijo na alma.


Dannillo Rocha






















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