sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Garçom, pede para abaixar o som e aumentar a dose.

By Tavares 512   Posted at  05:26   Ihqueabuso


Garçom, aqui nessa mesa de bar, você já cansou de escutar centenas de covers de Maria Gadú, Djavan e Ana Carolina. Saiba que o meu grande amor hoje vai se casar, e mandou uma carta pra me avisar que a gente não deu certo por causa do meu vício em boteco com música ao vivo. Eu culpo o shimbalaiê por destruir minha vida amorosa. Culpo também o vendedor de flores que ensinou aos seus filhos a escolher os seus amores.

Garçom, no bar todo mundo é igual: seja pra tomar conhaque ou banho de chandon, a gente quer mesmo é se reunir com os amigos para fofocar e reclamar da vida. É mil vezes melhor ouvir os últimos bafos da cidade do que ouvir qualquer música da Bossa Nova. É abissalmente melhor escutar reclamações sobre salários e relacionamentos do que escutar qualquer música do Jorge Vercilo.

Garçom, eu sei que estou enchendo o saco, mas não dá para aguentar duas horas de “quando a gente gosta é claro que a gente cuida”. Se o cara tem mesmo que cantar Caetano, pede pra diminuir só um pouquinho o volume, porque a amiga aqui quer falar mal das colegas de trabalho. E pede pra só me chamar pra cantar junto quando tocar Evidências, porque aí eu berro o refrão, jogo o braço pra cima, e defendo mesmo porque eu amo amo amo amo a música. “Eu quero ouvir você dizer sim, diz que é verdade, que tem saudade”. Evidências >>> ABISMO ABISMO ABISMO >>> toda a discografia do Chico Buarque e do Milton Nascimento. 

Garçom, mas eu, eu só quero chorar, eu vou minha conta pagar, por isso eu lhe peço atenção: 10 REAIS DE COUVERT POR PESSOA? TÁ LOUCO? Cês me empurram “a saudade bateu foi que nem maré” goela abaixo e eu ainda tenho pagar por isso? Mas tem o argumento que deixa em pedaços o meu coração: essa galera que canta em barzinho tem que trabalhar. Não deve ser fácil decorar todo o repertório da MPB e colocar o violão nas costas pra ganhar a vida. Mas não seria mais justo o bar bancar a atração já que eu tenho que bancar a catuaba? Daqui a uns dias vão cobrar na conta o papel toalha que a gente usa pra secar as mãos. E, por falar nisso, o bar está pagando o seu 10%, garçom? Porque essa galera pediu a Deus um pouco de malandragem.

Garçom, meu caso é mais um é banal, mas digo de coração: ou pede para o cantor de barzinho mudar esse repertório que nunca atualiza e fazer logo a festa com música animada e gritaria pra gente balançar o esqueleto, ou fala com ele pra cantar um pouco mais baixo porque a gente quer bater um papo aqui e não é obrigado a parar pra ouvir que “garotos não resistem aos seus mistérios, garotos nunca dizem não”.

Garçom, quero tomar todas e me embriagar, mas o cara está cantando “me faz pequena, asa morena, me alivia a dor” e eu imediatamente comecei a bocejar. Se eu pegar no sono, cê já sabe, garçom: me deite no chão.

Igor Luz


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