terça-feira, 16 de setembro de 2014

Manifesto em defesa das mulheres que frequentam bares sozinhas

By Tavares 512   Posted at  06:32   bebidasubstantivofeminino


A gente não quer só comida, a gente quer comida (óbvio), diversão e uma mesa de bar só nossa. A gente quer o direito de fazer o clube da Luluzinha regado à cerveja e música ruim. A gente quer soltar rimas antes de virar a dose de pinga sem olhares nos fuzilando da mesa ao lado. A gente quer brindar à casa, brindar à vida (meu amor, isso é só desculpa pra tomar mais uma). Ah, sim, a gente quer poder tomar mais uma. E mais outra. Nós queremos tomar quantas bem quisermos, sem ter que dar justificativas ou receber rótulos. É que a gente é mulher, mas não é tuas nêga.

Não sei quem andou espalhando por aí que os meus cromossomos X estão à inteira disposição de um tribunal de júri. Sou julgada se dirijo um carro ou a presidência da república. Sou julgada se entro no mercado de trabalho ou no boteco da esquina. Se eu estou bebendo apenas entre mulheres, alguma coisa está errada – ou eu sou “periguete” ou eu sou “sapatão”. Se hoje eu passei batom vermelho e dei uma risada alta entre as minhas amigas, “só pode tá atrás de macho”. Se hoje eu passei batom vermelho, mas recusei a bebida oferecida pelo cara da mesa ao lado, “não gosta de macho, só pode”. Se hoje eu passei batom vermelho e (AGORA PARE! pegue no bumbum troque essa legenda, por favor).

É que a gente não aguenta mais essa análise comportamental que nos reduz a simples instrumentos sexuais. Não, meu caro, a gente não vai a bares unicamente porque está querendo encontrar machos ou moças. Muitas vezes, nós queremos apenas beber uma roska de kiwí enquanto desabafamos sobre os problemas familiares e as contas para pagar. A minha minissaia, o meu cigarro, o meu decote, a minha dança ou as direções dos meus olhares não querem dizer nada a você. Deixe em paz o meu copo, o meu corpo, o meu papo e o meu riso. Se você está preocupado se eu quero homem, mulher ou cerveja, saiba que eu quero mesmo é distância de gente com pensamentos tão medíocres. E antes de medir o meu grupo de amigas, meça primeiro a sua combinação de listras com estampa e os erros de português no seu status do Facebook.

Mulheres que vão sozinhas a bares são apenas mulheres que vão sozinhas a bares. Isso mesmo, ponto final. Pare de querer nos enquadrar nos seus rótulos mesquinhos. Pare de achar que pode avaliar o tom da nossa voz. Pare de pensar que pode nos dizer o que vestir. Pare de nos dizer qual é a curva mais bonita do nosso corpo (sorriso é uma ova, a minha curva mais bonita é e sempre será a da barriga cheia). Cheia de cerveja, comida, diversão e arte. Cheia de frio por conta de novidades que quero compartilhar com minhas amigas no próximo happy hour. Cheia até mesmo dos “periguete” e “sapatão” que sou obrigada a engolir por aí frequentemente.

Mas, adivinha só, enquanto você continuar fora de moda vestindo listras com estampa e essa bandeira medonha de ignorância, muitas mulheres como eu vão continuar preferindo encher a barriga de roska de kiwí e borrar o seu batom vermelho unicamente com o copo. É que nós somos mulheres, no sentido mais literal da palavra. E não as tuas nêga. 

Sâmia Louise

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