terça-feira, 9 de setembro de 2014

Primeiro encontro: quem paga a conta?

By Tavares 512   Posted at  08:06   bebidasubstantivofeminino


Tudo começa com um mano, uma mina e uma mesa. Estamos falando dos primeiros encontros, da fase da conquista. Eles resolvem ir a um barzinho ou restaurante para se conhecer melhor. Vão demonstrar interesse em conversar sobre o último debate dos candidatos à presidência da república e a suspeita de atentado terrorista no Chile, quando na verdade a maior preocupação é descobrir se o beijo da tua boca tem sabor de fruta fresca. Ele vai fingir que precisa atender várias ligações, só pra ostentar o seu iPhone de última geração. Ela vai fingir que está satisfeita com apenas um temaki, já pensando na lasanha à bolonhesa que sobrou do almoço. Vão tomar vinho, trocar olhares, sorrisos e avançar uma casa no jogo da sedução. E então é hora de deixar o local, e o garçom chega com o valor de consumação da noite. E eu vos pergunto: quem vai pagar as contas desse amor pagão?

O assunto é controverso. Pedi ajuda aos universitários no Twitter (melhor universidade <3), e a galera dos 140 caracteres mais uma vez não me decepcionou. 

“Meio a meio, sempre”, defenderam as meninas que, como eu, adoram um show pirotécnico com sutiãs.

“Não precisa de um discurso feminista sobre um gesto que é puramente questão de cortesia”, devolveu um macho alfa.

A menina que cresceu assistindo aos clássicos de Princesas da Disney foi enfática: “Os homens pagam [suspiro].”

A que cresceu assistindo aos clássicos de Princesas da Disney, mas já teve oportunidade de tomar bons coices do cavalo branco, retrucou: “Não sou obrigada a rachar a conta quando tenho que aguentar todas as sacanagens do sexo masculino!”

Há ainda os adeptos à tradicional premissa do “quem convidou paga”.

“Depende muito da pessoa, da relação, da ocasião.” Esse é o boy moderno que espera rachar a conta, mas vai preparado pra arcar com o seu vinho, caso você não faça menção de abrir a bolsa.

E provando que sobra em inteligência o que falta em limite de cartão de crédito na classe, uma amiga jornalista foi direta: "Quem ganha mais, óbvio."

No terreno da intimidade, é claro que tudo está liberado: eu pago hoje, você paga amanhã, a gente racha no sábado e, no fim do mês, penduramos. Mas na fase do flerte, quando a gente ainda mente que lê Nietzsche, tudo fica mais delicado. E é por essas e outras que eu tenho certa preguicinha de primeiros encontros. Na maioria das vezes, os garotões vão insistir na “cortesia” de pagar tudo. O garçom vai aguardar (im)pacientemente à mesa, enquanto o mano saca mais uma vez o seu iPhone 5s com uma mão e rejeita o dinheiro da mina com a outra (porque não importa se você é feminista, budista, marxista ou princesa de Jó, sempre se ofereça para pagar, vlw flw?). E num primeiro encontro, normalmente nos sentimos intimidadas em espantar o boy com um discurso sobre a opressão do homem que paga a conta e a sua contribuição para o reforço dos valores machistas na sociedade moderna. Ainda que a gente minta que é a nossa tese de mestrado. 

Particularmente, eu prefiro ficar com a pureza das respostas das crianças: eu pago a minha parte, você paga a sua, todo mundo vive a sua vida, que é bonita e é bonita. Sou do time feminista que acha que, se nós queremos direitos iguais, temos que tratar os deveres da mesma forma. Por isso que eu tenho mais afeição por segundos e terceiros encontros, quando a gente já conhece o sabor da fruta fresca e o terreno está preparado para a queima do primeiro sutiã. E o mais importante: já podemos pedir dois temakis. Ou três.

Sâmia Louise

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