terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eu mostro a minha fúria

By Tavares 512   Posted at  06:29   bebidasubstantivofeminino




Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, não conseguiria expressar a minha perplexidade toda vez em vejo um ser humano dito racional derramando uísque em festa. Não que me doa o desperdício, pois eu odeio uísque. Mas me dói, no fundo da minha alma armada e apontada para a cara do sossego, a falta de boas referências, de amigos e de roupa pra lavar desse pobre coitado. Faltou um “para que tá feio” no pé do ouvido. Faltou Havaianas de correia azul no meio da bunda. Faltou uma massagem com o óleo de amêndoas Paixão para acalmar os ânimos desse espírito possuído, enquanto a gente tem a chance de esconder o litro dele.

E já que paz sem voz não é paz, é medo, aqui vai a minha corajosa contribuição: amigo, essa história de ostentação e luxúria é só pra compor as músicas que vão tocar enquanto a gente quebra no São João de Ibicuí. São só algumas rimas toscas gritadas ao ritmo do momento. Não é para levar a sério, acredite. Rasgar dinheiro? Postar foto de notas de 100 reais toda sexta-feira? Tomar banho de Chandon? Para que tá feio. Para logo, antes que eu seja obrigada a te dar uma surra de Havaianas.

Mas se ainda assim você insistir que é desse jeito que rico vive, peço apenas que, por favor, não se aproxime. Cante o “Bonde da Ostentação” o quanto quiser, só não me cante. Já ouviu dizer que a sua liberdade termina onde a minha começa? Não, não é um novo hit pro seu paredão. É só pra dizer que a sua catarata de champanhe com certeza vai me deixar ensandecida, mas que ao menos seja de uma distância segura onde ela não possa respingar em minha roupa. Não adianta botar boné da John John e copo e uísque na mão. Não adianta ser Friboi ou estar na moda. Não adianta nem mesmo pendurar no pescoço a armadura de um exército de Game of Thrones. Não, eu não vou pro seu mundo.

Estou melhor aqui, fora da sua área VIP. Curta à vontade o seu carro rebaixado e a mulher do patrão. Espalha mais dinheiro pelo mundo, rasgado em pedaços. Derrama mais uísque, que de lá de cima o Senhor derrama sobre nós o seu amor. Pois o amor é bom, não quer o mau, não sente inveja ou se envaidece. Perdoa, Senhor, esse ser que não sabe o que faz. E, por favor, enquanto ele faz questão de mostrar a sua vida mais ou menos, absolve a sua alma e não queira mostrar a Sua fúria com tanta babaquice. 

Sâmia Louise



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