PROTESTO! Arranca meus dentes com o alicate, depila o meu peito com cera quente, coloca Djavan para gritar repetidamente suas músicas em meus ouvidos, me obriguem a ir pro show do Teatro Mágico, me desgrace, me odeie, mas não me tira um feriado. Feriado é a prova que Deus existe e que você ainda continua vivo. Feriado é amor em forma de calendário. Feriado é melhor do que sexo, cerveja, nutella e Breaking Bad. Há quem espere a volta de Jesus. Há quem espere a volta de Game of Thrones. Há quem espere um amor pra recordar. Eu espero o próximo feriado.
Ontem foi o Dia da Consciência Negra. Enquanto vários branquelos sulistas estavam curtindo a folga, nós, negões da Bahia, estávamos suando a camisa. Todas as baianas do acarajé, camelôs da Lapa, vendedores de corrente de coco na praia de Piatã: revoltemos. Capoeiristas do Pelô, batucadores do Olodum, ciganas do Elevador Lacerda: protestemos. Leãozinho do Caetano, cabelo da Maria Betânia, nação psiriqueira: gritemos. Travestis da Rodoviária, sapatões fãs de Daniela e de Gal, viados que se pegam no Morro do Gato no carnaval: apitemos. Não precisa nem saber quem foi Zumbi dos Palmares ou o que ele fez, só precisa lembrar que um feriado nunca é demais.
Pior do que arrancar, sem dó e sem piedade, um feriado das mãos do honesto trabalhador brasileiro (ATENÇÃO: sempre que um político usa o termo “honesto trabalhado brasileiro”, ele quer meter a mão no seu bolso), é arrancar um feriado justo este ano. Este 2014 infeliz, em que todos os feriados fizeram um complô para sacanear o cidadão de bem (ATENÇÃO: sempre que um político fala “cidadão”, ele vai contar alguma mentira em seguida).
O cabelo de Maria Betânia e eu já temos nossas reinvindicações para o Ministro dos Feriados. Queremos feriado no Dia da Consciência Negra, porque né, nós somos Salvador, Bahia, território africano, uma voz, um tambor, oxente, cê num tá vendo que a gente é nordeste? Queremos também um Dia da Consciência Gay, com feriado. Se não tiver feriado nem precisa perder tempo. Podem acrescentar um Dia da Consciência Ortográfica, pelo bom português; o Dia da Consciência Fashion (um protesto, com feriado, contra a calça saruel não faria mal); o Dia da Consciência Ragatanga (pedindo a volta do Rouge). Por um feriado, eu apoio e assino embaixo até o Dia da Consciência Ambiental.
Mas essa semana eu recebi umas imagens de um cara que coloca sua bunda de fora nas redes sociais com o salmo 23 na legenda. A gente pode ter simplesmente um Dia da Consciência mesmo?