terça-feira, 11 de novembro de 2014

Vou de táxi, cê sabe

By Tavares 512   Posted at  06:41   bebidasubstantivofeminino












Vou de táxi, cê sabe, tava morrendo de saudade de me jogar sem cerimônia no banco do fundo enquanto o meu “boa noite” denuncia o meu nível alcoólico. Cê sabe, adoro tentar decifrar o que significam aqueles códigos chatos que a mulher da central não para um minuto sequer de emitir pelo rádio.“Quarenta e dois, trinta. Cinquenta e quatro, noventa. Vinte e cinco, dez”. Adoro me sentir à vontade para traçar reflexões sociológicas com o taxista: “Moço, será que eu to muito bêbada ou todos os homens do mundo resolveram ser gays?” E receber o seu conforto: “Se preocupa com isso não, a senhora é muito bonita.” E eu te pergunto: quem nesse mundo vai te chamar de bonita depois dessa pele oleosa, chapinha destruída e rímel escorrido, típicos de fim de festa? Só o moço do táxi, cê sabe.


Vou de táxi, cê sabe, lá eu posso cochilar à vontade depois que explicar meu endereço. Nem me importo se o taxista ficar espiando o meu ronco pelo retrovisor. Ou se eu precisar pedir pra ele mandar aquela mulher chata calar a boca, porque tá atrapalhando meu sono. Depois de algumas cervejas, nada me parece mais confortável do que o sacolejar do táxi até a minha casa. Depois de ser obrigada a despertar com o terceiro “Moça, chegou!”, dá até vontade de morar lá na Loagoa das Flores – mas passa assim que eu olho o taxímetro. Desço catando a chave e pedindo para ele me esperar entrar em casa. “Vai ser mais fácil se a senhora tirar o sapato alto.” E eu te pergunto: quem mais nesse mundo vai se preocupar com a sua integridade física ao ter que subir três lances de escadas, em um leve estado de embriaguez, às duas e cinquenta da manhã? Só o moço do táxi, cê sabe.

Vou de táxi, cê sabe, é mais seguro pra mim e pros meus amigos. Eu sei que me acho uma motorista fantástica, que nunca vai cometer um erro bobo e arriscado. Eu sei que sempre digo que algumas cervejas não fazem mal algum ao volante. Eu sei, eu sei - também penso que tragédias só acontecem com os outros, admito. Mas, dia desses, eu percebi que poderia ter sido eu no lugar daquela garota do noticiário. Poderia ter sido ainda a amiga que foi de carona comigo. E qual o dano que um táxi pode trazer? O dinheiro deixado a pedido do taxímetro entra na conta de novo ao fim do mês. Danos de verdade são aqueles irreparáveis. Com o perdão do clichê, a gente tem um mundo imenso pra uma vida pequena. Então, vamos de táxi. Cê sabe, ainda queremos ir e voltar por muitas e muitas vezes.

Sâmia Louise

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