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quinta-feira, 30 de outubro de 2014

O FACÃO DO MEU PAI E AS 82 JULIAS ROBERTS

By Tavares 512   Posted at  12:23   Ihqueabuso












Vou fazer uma tatuagem. Desculpa, mãe, mas agora que estou pagando o meu café da manhã e o meu aluguel, nada mais me impede. Desculpa aí, pai, mas, depois que acabou a faculdade (e, com ela, o dinheiro que o senhor mandava todo mês), não vou ficar mais com medo daquela ameaça “SE FIZER TATUAGEM EU RANCO FORA A PELE COM FACÃO”. Está decidido e ninguém tira da minha cabeça. 

O duro mesmo foi escolher o rabisco infernal que vai perdurar para a toda a eternidade no meu corpo. Pensei em pedir conselhos aos amigos que são experientes nos assuntos. Morro de inveja da tatuagem deles. Um me jogou várias estrelas gigantes coloridas nas costas, parecendo o sistema solar de uma galáxia gay, uma espécie de mundo do Pequeno Príncipe. Outra, teve a ideia revolucionária de tatuar um salmo qualquer de Josué na bunda, misturando o profano e o sagrado. Tem aquela bem inovadora que fez umas borboletas no pé. Tem mais criatividade: número cabalístico, letra significativa, frase de música, frase em outra língua. E o mais genial: um amigo contou que tatuou a música João e Maria do Chico Buarque nas costas. Como eu não entendo nada com nada de Chico, eu só consegui enxergar uma cigana em um cavalo, mas mesmo assim eu amei. 

Mas acho que tatuagem no corpo é um caminho que você deve percorrer sozinho e larguei mão de pedir ajuda aos criativos amigos. Eliminei logo de cara o tribal no braço porque não tenho braço #nopainnogain. Eliminei infinito no pulso porque é mulherzinha demais. Eliminei colocar o nome da minha mãe porque ela se chama Cléa Cátia. 

E então, quando já estava desistindo de riscar meu corpo, eu resolvi googlar. Foi a melhor ideia que eu tive. Foi o ponto alto da minha relação com as internets. As pessoas são inspiradoras. Tatuagem significa a mais alta expressão de amor. O amor que deixa marcas e não dá pra apagar. Fiquei encantado. 

Essa menina é claramente um exemplo de tatuagem de sucesso. Um dos meus sonhos é ter um filho, dar comida, amor e leite NAN e ele me chegar em casa com “Orgastic” no braço. Para quem não sabe, é uma homenagem a Serginho Orgastic, ex-BBB, um ícone, uma estrela, uma pessoa de altíssima importância para a história da humanidade. 


Essa também chamou a minha atenção. Se for pra fechar as costas, que seja com a cara do Leo Santana do Parangolé. Fiquei tentado a imitar, mas ainda tinha muita coisa boa para ver. 

No quesito cantor sertanejo, percebi que é melhor tatuar o rosto do ídolo do que o nome. Guardei essa dica na memória. Um bom tatuador sempre pode captar o olho estrábico do Luan Santana, mas sempre pode correr o risco de engolir uma letra. Cês também tão lendo ali “Luas Lucco”? 



Também sempre tem a opção de homenagear uma diva nacional. O problema é só decidir qual. Ajuda aí: Wanessa Camargo, Vivi Araújo ou Carol Dieckmann? 


Também encontrei pessoas criativas, que escolhem lugares inusitados para mostrar o seu amor e a sua gratidão para pessoas que estão se importando muito com elas. Será que dá para tatuar “James Rodriguez” nos meus lábios? Essa tatuagem do dente me deu uma ideia. “TEM FEIJÃO NO SEU DENTE!”. “Num é feijão, idiota, é o rosto do Thiaguinho tatuado”. 


PARAAAA TUDOOOOO QUE ACHEI UMA PESSOA COM A TATUAGEM DO MEU ÍDOLO, do homem da pistola de ouro, do divo, do sexy, do maravilhoso, do sedutor, do herói nacional, do GUERREIRO DE MINHA VIDA, da pessoa que reescreveu a história do cinema: FROTAAAA. Quero essa tatuagem pra mim. 


Mas a minha preferida é a do cara que tatuou 82 Júlia Roberts no seu corpo. Cada pedaço de sua pele é uma expressão diferente da sua diva. É uma tatuagem interativa, que dá para brincar. Onde está Júlia Roberts em Uma Linda Mulher? Logo ali, abaixo do sovaco. Cadê Julinha Noiva em Fulga? Na coxa esquerda. Não vi ainda Julia Roberts Comer Rezar Amar. É porque tá na bunda. É o novo “Onde Está Wally?”. 


É muito difícil escolher uma tatuagem. Mas, assim, de repente, e não mais que de repente, a voz do meu pai ecoou em minha cabeça: “FAZ, FAZ, MULEQUE UMA TATUAGEM QUE EU VOU RANCAR NO FACÃO”. E perdi a coragem.

Igor Luz

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Aécio, Dilma, o homem da pistola de ouro e eu.

By Tavares 512   Posted at  06:04   Ihqueabuso










Lindsay Lohan e Naomi Campbell declararam apoio a Aécio Neves. Foi a martelada que faltava para eu aderir à campanha do tucano. Alguns escolhem o presidente baseado na economia do país. Outras votam pensando no melhor para a sociedade. Uns, mais espertos, votam naquele que vai beneficiar o seu próprio umbigo. Há aqueles intelectuais de Facebook que usam milhares de argumentos, passando desde a seca do Nordeste até a situação dos travestis do interior do Ceará. Eu uso um método bem mais simples, que dispensa análises profundas que eu nunca entenderei: sigo os meus ídolos. 

Eu estava totalmente neutro na disputa presidencial, até os artistas e intelectuais começarem a apoiar os candidatos. Foi difícil, mas acompanhei com fervor cada manifestação e cada abaixo-assinado. Estava tudo muito complicado. Fiquei de um lado para outro, pulando para lá e para cá, a cada declaração importante de voto. 

Quando Caetano Veloso foi para o lado de Dilma, eu logo fiquei cismado com a candidata. Caetano canta “Leãozinho”, e é difícil confiar em alguém assim. Mas aí logo veio o Beto Guedes apoiando o Aécio, e tudo ficou empatado. O cara canta “quando entrar setembro e a boa nova blablabla”, e eu tenho agonia porque todo setembro a galera cansa a gente com essa prosa ruim. 

Mas, de repente, em uma paulada só, veio o apoio de Dado Dolabella, Joelma do Calypso, Lala Rudge e Ronaldo Fenômeno para Aécio. É gente de altíssimo gabarito intelectual e não tem como não ficar balançado. Do lado de Dilma, aquela galera do samba de Beth Carvalho, e o chatíssimo do Chico Buarque. Foi a primeira vez que mostrei fortes tendências a votar no 45, junto com o Zezé e a Wanessa. 

Já estava pronto para anunciar, debaixo do chuveiro com o shampoo como microfone, o meu apoio ao ex-governador mineiro, quando a desgraça aconteceu: Rogério Flausino, do Jota Quest, foi mais rápido e apareceu em uma foto abraçando o presidenciável. Desisti imediatamente. Primeiro, porque Jota Quest não dá, amizades. A banda morreu em 2002 (junto com Malhação) e só esqueceram de enterrar. Segundo, porque o Henri Castelli declarou ser Dilma, e já imaginei a gente correndo para o abraço um do outro se ela ganhasse. Virei petista. 

Sim, sim: foi exaustivo acompanhar as celebridades. 

Aí veio a Alcione – QUE EU AMO AMO AMO AMO – e mostrou seu afeto por Dilmão, e eu já estava com a estrela no peito cantando “Coração Valente” para cima e para baixo. Mas, vocês sabem como é essa vida de fã: a gente sempre tem alguém que vale mais que o outro. E, então, meu ídolo mor, minha inspiração intelectual, o gênio, o homem, o herói, o autor de 007 Frota: O Homem da Pistola de Ouro, Alexandre Frota, colocou o adesivo 45 no braço cheio de bomba, e eu, imediatamente, mudei de posição (AAAAAUUUUU!). 


Já estava pronto para sair na rua e colocar bandeira e adesivos em meu carro que eu ainda não tenho, quando o Eduardo Jorge resolveu apoiar o Aécio. Eu adorava o Dudu até ele se recusar a responder a pergunta mais importante feita desde que começou o período eleitoral, desde que começaram os debates e as entrevistas, desde “quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?”: 


Fiquei com raiva com o silêncio de Eduardo Jorge, porque tem perguntas que devem ser respondidas pelo bem da sociedade, pelo bem do Brasil, e pelo bem do mundo. O silêncio dele me fez virar a casaca mais uma vez e apoiar, definitivamente, a Dilma. É 13 neles! Confirma! 

UP: Já estava para publicar este texto, quando fiquei sabendo que a banda Teatro Mágico declarou campanha a Dilma. Morro de agonia da banda, que está lá cantando de boa e, do nada, surge um malabarista pulando de um lençol e um mágico tirando uma pomba do chapéu. Posso ser indeciso em relação ao voto, mas carrego uma certeza na vida: quero distância do Teatro Mágico. 

Votarei nulo. Mesmo porque, o Frota e todos vocês sabem, é cansativo demais MUDAR DE POSIÇÃO toda hora. Beijos, não se matem. 

Igor Luz

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Super Justin Bieber contra o Baixo Astral

By Tavares 512   Posted at  07:21   Ihqueabuso










Abro as internets, e mais uma vez a galera está revoltada com o Justin Bieber. O que ele aprontou dessa vez? Maconha? Pichação na parede? Mijou em uma cozinha? Saiu do parque sem pagar a conta? Esmurrou um paparazzi? Mostrou o dedo do meio para o fotógrafo? Fez piada racista? Dirigiu perigosamente? Foi preso? Apareceu pelado em vídeo? Tudo isso junto? 

Tenho preguiça do Bieber, com a sua adolescência insuportável e seu despreparo emocional. Hoje em dia, não tenho mesmo paciência pra jovem rebelde – qualquer que seja. Essa ousadia “uhuuu vamos quebrar as regras”, “uhuuuu vamos chamar a atenção”, “uhuuu o mundo é nosso”, cansa a minha beleza e me faz revirar os olhos. Mas, eu juro por mim mesmo, por Deus, por meus pais, que tenho infinitamente mais preguiça, impaciência e cansaço dessa galera caga regra que fica horas perdendo tempo implicando, escrevendo julgamentos e esbravejando blá-blá-blá zZZzzzzZZZzz em todas as redes. Xô contar aqui: o Bieber tá se lixando. 

             O que tá rolando, migos?
Excetuando alguns felizardos, todo jovem é meio otário. Fomos todos bobões achando que estávamos arrasando no mundo, com nossas crises existenciais e a nossa prosa ruim sem fim. Olho pra trás, e morro só de pensar no quanto eu era chato, inflexível e dono da verdade. Mas, verdade seja dita, também sinto falta da diversão sem culpa, da intransigência sem desculpa, da cara lavada. Todos nós fomos Biebers, aprontando loucuras pelo mundo, exercendo toda a idiotice que a pouca idade permite. Só que não tinha um bando de paparazzi na nossa cola, flagrando cada erro, cada deslize, cada vez que enchemos a cara e demos vexame. 

Deve ser chato pra cacete! Fui ver algumas coisas do cantor para escrever esse texto, e realmente senti pena da perseguição insana que acontece com ele. “Justin Bieber aparece com cigarro suspeito”, “Justin Bieber faz xixi em local inadequado”, “Justin Bieber aparece pelado na varanda”, “Justin Bieber cospe e acerta fãs”, “Justin Bieber dirige em alta velocidade”. AAAAAAAAAAAH, não dá para culpar o menino por sentir vontade de dar uns sopapos nos fotógrafos. Ele contou que até quando fugiu para uma praia deserta, sem falar para quase ninguém, surgiu um cara com uma câmera do nada.

Desde os 15 anos, Bieber é perseguido por flashs. Insistentemente. Absurdamente. Loucamente. Agora pense se você tivesse que lidar com uma merda dessas no auge da sua imaturidade. Acrescente isso ao fato de que você não precisa do dinheiro dos seus pais para nada. Acho difícil até depender de permissão, porque o seu ambiente de trabalho é noturno, cheio de vícios e sem hora para voltar pra casa. Sempre tem a saída de ficar enfiado dentro de casa, deixando a diversão imatura de lado. Mas nem isso a galera perdoa. Sandy viveu uma adolescência de princesa, e sempre foi apontada por conta disso. Como o julgamento dessa galera chega de toda maneira, é melhor ser julgado dentro de um iate, com champanhe e morangos, sustentando um bando de puxa saco e torrando no sol de Ibiza. 

Vejo no Bieber um adolescente problemático (como vários de nós fomos), cheio de coisa na cabeça e uma rebeldia sem propósito. Mas também consigo enxergar um jovem de 20 anos talentosíssimo que trabalha muito. Deve ser foda depois de uma noite de show, com um bando de garota desesperada, suada, com gritos histéricos tentando agarrá-lo, e mais um bando de imbecis babando o ovo, acordar e ler que a Xuxa chamou você de “bichinha”. Dá ou não dá vontade de mostrar o dedo e mandar um “fia volta a brigar contra o Baixo Astral que eu tenho que ensaiar a coreografia pro show de amanhã que é muito mais difícil do que cinco patinhos foram passear”? 

Deixa de abuso de reclamar de tanta palhaçada, que enquanto vocês esperneiam contra as atitudes do Bieber, ele está lá lindo (TODA IGREJA APLAUDINDO DE PÉ) pensando no seu novo álbum, que eu espero que seja tão bom quanto o último. Sim: hoje, só por hoje, coloquei minha franja para frente e virei um belieber de carteirinha. Onde participa do fã clube?

Igor Luz

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Eu voto em Livian Aragão

By Tavares 512   Posted at  05:48   Ihqueabuso












Estou acompanhando com um desinteresse profundo o debate político desse segundo turno. Não, não assisto aos discursos deles na televisão. Estou muito ocupado acompanhando, animadamente, com um balde de pipoca, as envolventes tramas da novela das 7 e as divertidas confusões de A Fazenda. Também não tenho tempo para ler o noticiário político na Internet. Ao invés disso, lá estou eu, no site EGO, acompanhando a carreira musical do meu ídolo Livian Aragão, filha de Didi. Prefiro as brigas de Casos de Família do que as brigas entre o PT e o PSDB. Prefiro saber quem passeou na orla de Copabana no fim de semana do que saber os compromissos de Dilma para esta sexta. Prefiro ficar por dentro da vida amorosa de Deborah Secco do que ler sobre as propostas de Aécio.

Meus amigos, que são muito mais inteligentes do que eu, discutem política de uma forma muito mais madura e séria. Sinto orgulho e uma pitada de inveja sempre que eles começam a conversar sobre privatizações, carreiras políticas, citam artigos da Forbes e, vez por outra, soltam o nome da Petrobrás no meio do papo. Eu fico voando. Por vezes, eles mandam um enigmático “há muito mais por trás disso que vocês imaginam”, e eu fico bestinha com o poder do conhecimento. Até tentei acompanhar o papo, mas outro grupo de amigos estava discutindo qual roupa para usar na Chopada de Medicina, e eu logo fui abduzido para aquele outro mundo em que a decisão entre calça ou bermuda se tornou bem mais interessante do que 13 ou 45.

Outras coisas que não consigo entender patavinas são as listas. Enquanto meus amigos discutem com visível responsabilidade de cidadão os 13 motivos para não votar em Dilma, eu estou nos blogs sobre relacionamentos lendo com profunda atenção os 10 sinais de que ele não está mais a fim de você. Enquanto eles estão listando os maiores casos de corrupção na história do país, eu estou fazendo meu TOP 5 filmes da Sessão da Tarde. Meus amigos também reclamam com profundo desgosto dos cavaletes dos políticos espalhados pelas ruas. De fato, eu me incomodo muito mais com cocô de cachorro.

Sempre achei a obrigatoriedade do voto uma tolice. Meus amigos, que são muito mais espertos do que eu, falaram que votar é um direito democrático. Posso, então, ter o direito democrático de não votar? Eu preferia estar empanturrando-me de cerveja e mortadela do que ir lá escolher o futuro presidente do Brasil. Preferia estar cochilando com um filete de baba caindo delicadamente sobre a camisa enquanto eu assisto a Faustão do que optar entre Dilma e Aécio. Até eu, que sou um ignorante político, sei que a gente tem a opção de votar nulo ou em branco. Mas eu não queria interromper minha mortadela com limão por nada.

No fim, eu tinha decidido votar em Aécio porque ele é mais bonito. Depois, eu decidi mudar pra Dilma porque alguns eleitores do PSDB chamaram os nordestinos de pobres ignorantes. Posso até ser tudo isso mesmo, mas não gosto que apontem os meus defeitos na minha cara. Depois de tanta indecisão, escolhi um modo saudável para escolher o meu presidente: voto punitivo. O grupo partidário que mais encher o meu saco, tentando me tirar das tramas de Geração Brasil, marcando-me em postagens e mandando argumentos para eu votar em fulano ou beltrano, perde o meu voto. Por enquanto, as definições de chatice foram atualizadas e estão empatadas. No sábado, antes das eleições, e depois de conferir Alexandre Nero em Império, faço uma análise do grupo mais insuportável. Aí vou lá e voto no concorrente. 

Mas, mudando de assunto aqui rapidinho, cês viram o barraco entre Diego Brito, Roy e DH, com pisão no pé e gritos, em A Fazenda? BABADO! 

Igor Luz

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O azul calcinha e o cabo USB

By Tavares 512   Posted at  05:53   Ihqueabuso


Acabei de chegar do enterro. Estou triste e arrasado. Cabisbaixo e depressivo. Ainda sinto os efeitos do calmante. Eu sei que era uma morte esperada, anunciada, proclamada. Mas, só na hora em que o coveiro jogou o último punhado de terra, foi que eu senti o baque. Apenas porque tenho classe, elegância, glamour e sofisticação, não comecei um escândalo de enterro de pobre gritando para me levar junto no caixão. A única coisa que conseguiu melhorar um pouco o meu humor foi me ver no espelho. O preto me cai bem. Fico lindo, divo, magro e sedutor. Mas, não tem jeito. É só pensar no meu querido amigo moribundo, e os meus olhos se umedecem lacrimejantes. Estou sentindo falta de nossos bons tempos. Só penso nele. Sim, ele mesmo. Ele, que morreu no último dia de setembro: o Orkut.

Sempre lindo, o Orkut chegou reinando com seu azul calcinha. E logo conquistou milhares de fãs com a comunidade “Eu Odeio Cagar Fora de Casa”. Era uma linda época em que a gente dividia o tempo entre brincar horas de “Beija ou Passa” na comunidade “Eu Leio Nietzsche” e reclamar do novo corte de cabelo da Sandy e discutir a sexualidade de Júnior na comunidade “Sandy & Júnior 4ever”.


O Facebook nunca chegará ao chulé do Orkut por motivos de: NÃO TEM DEPOIMENTOS. Como assim, minha gente? Saudade eterna do TOPO É MEU. Eu não sossegava até conquistar o topo de todos os meus amigos. Não era fácil. Exigia perspicácia, agilidade e horas de tentativa. Se o topo de depoimento do Orkut fosse o topo do Everest, com toda certeza eu seria o famoso alpinista George Mallory. 

E, outra coisa, SÓ ME ADD COM SCRAP. Eu era desse que só aceitava com recadinho no meu mural. E avisava logo: SCRAP LIDO, RESPONDIDO E APAGADO. No início da rede social, eu gostava de exibir minhas páginas e mais páginas de scraps, mas depois eu preferi ficar confidencial, ficar secreto, ficar mistério. Outra coisa que mudei foi iXcrEveR AxxXiM. AMAAAVA demais, mas logo comecei a detestar e virei um dos membros assíduos da comunidade “Eu OdEiO kEim IxcRevE AxXXim”. 

Eu lacrava muito no Orkut. Lá, eu era 100% legal, 100% confiável e, o mais importante, eu
era 100% sexy. Eu era tão, tão, tão sexy, que já estampei por duas vezes a comunidade “Gatos e Gatas do Orkut”. O meu Buddy Poke também era bonitão e adorava flertar com outros Buddy Pokes, mandando flores e piscadinhas. Que falta eu sinto dele.


Saudade também da Sorte do Dia. Não sei vocês, mas sempre SEMPRE funcionava comigo. A Sorte do Dia era meu horóscopo, minha Bíblia, meu minuto de sabedoria, minha estrela guia, meu norte, meu tudo, meu Pequeno Príncipe, meu Mundo de Sofia, meu infinito particular. Sem os sábios conselhos do Orkut, virei um errante sem propósito, um pobre diabo, um órfão abandonado, um lindo menino rebelde que não sabe nem dobrar um lençol de elástico. 

O Orkut se foi. E não se foi só. Levou consigo a melhor pessoa das internets. Meu ídolo charmoso, elegante e sincero, Cabo Ulisses Soares Batista. Para sempre carregarei vocês em meu coração. 



Sorte do dia: É SEXTA! LARGA ESSE TEXTO E CORRE PRO BAR MAIS PRÓXIMO. 

Igor Luz



sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Eu sou a Olga Benário das hashtags.

By Tavares 512   Posted at  05:28   Ihqueabuso





Desde que eu entrei no Twitter, Facebook e Instagram, virei um revolucionário de carteirinha. Sou o Nelson Mandela dos 140 caracteres. Sou a Olga Benário das hashtags. Sou os caras-pintadas da era digital. Já vejo meu nome estampado nos livros de história. Já vejo as pessoas tirando fotos com a minha escultura e postando nas redes sociais. Já vejo Chay Suede e Caio Castro brigando nos bastidores para me interpretar. Estou mudando o mundo. Podem me aplaudir. Podem me reverenciar. O universo precisa de mais seres humanos do bem como eu. 

A melhor coisa em ser um revolucionário de poltrona é que eu posso brigar pelos problemas sociais sem suar, sem melecar a cara com tinta guache, sem apitar no meio da rua, sem levar tiro de borracha dos policiais. Não é preciso caminhar contra o vento, sem lenço, sem documento, no sol de quase dezembro. Estou mudando o mundo debaixo do ar condicionado, esparramado na cadeira, sujo de farelo de salgadinho. Penso nas crianças mudas telepáticas entre um episódio de Game of Thrones e uma curtida nas fotos da galera. Brigo pelos pobres e favelados enquanto bato papo com um amigo no chat sobre as resenhas do fim de semana. #ogiganteacordou

Recentemente, uma torcedora gremista chamou o goleiro Aranha de macaco. Não perdi tempo: acordei, escovei os dentes, preparei um café rápido, e fui logo para o Facebook desabafar, protestar e mostrar toda a minha indignação. Em outro episódio parecido, jogaram uma banana para Daniel Alves no jogo do Barcelona e Villarreal. Pois eu tirei uma foto com uma enorme banana da terra para gritar contra o preconceito. Não só eu, claro. Para provar que não há idade para a consciência social, o filho de Neymar também divulgou uma foto em que aparece agarrado com uma fofa banana de pelúcia. Mas no engajamento político das selfies, ninguém é páreo para Angélica e Luciano Huck. Se eu sou a Olga Benário das hashtags, eles só podem ser a Angelina Jolie e o Brad Pitt. Se o casal de atores americanos adota crianças africanas e doa fortunas para tentar amenizar a fome, o nosso casal de apresentadores tupiniquim responde com uma foto no Instagram para acabar com o racismo do futebol. Entre uma viagem de férias a Paris e um passeio à Disney com os filhos, os ativistas Huck e Angélica não perdem tempo de exercer a responsabilidade social. #somostodosmacacos #voudetáxi

Não é de hoje que estou brigando pelos direitos humanos. Ainda lembro, com lágrimas nos olhos, o meu ingresso nessa luta. Em uma noite de frio, com o notebook no colo, li sobre a dura realidade de uma tribo indígena no Mato Grosso do Sul. A situação era dramática e exigia medidas extremas para apoiar a causa. Ali, debaixo do cobertor e com uma xícara de chocolate quente nas mãos, mudei o meu nome nas redes sociais para Ígor Guarani Kaiowá Luz. #nãoépelos20centavos

Estou antenado em toda a gritaria das internets. Não deixo passar uma oportunidade de mostrar o meu apoio a todas as minorias. Perco até o pudor e a vergonha em prol de um bem maior. Para acabar com o estupro e a violência com as mulheres, arranquei toda a minha roupa e fiz um cartaz “Eu não mereço ser estuprada” para espalhar pelas novas mídias. Daniela Mercury, Valeska Popozuda e eu ajudamos a impulsionar essa campanha que foi uma das mais importantes do ano. #EuNãoMereçoLerEstrupada #BeijinhonoOmbro

É importante lembrar que a revolução de pijama não se prende apenas ao racismo, violência, política, homofobia e paz mundial. Nós, revolucionários da sombra e água fresca, protestamos sobre tudo que consideramos injusto. Anitta fez plástica no nariz? Protesto. Cauã Reymond traiu Grazi Massafera? Indignação, choque e conselhos de vida. Rouge cancelou o retorno da banda? Tristeza e desabafo. Nossa série favorita foi cancelada? Gritos escritos em CAIXA ALTA. Queremos beijo gay na TV? Entupimos as redes sociais com hashtags. Com retweets e compartilhamentos, a gente vai mudar o mundo. Sem suar. #BeijaFélixeNiko #VoltaRouge 

O gigante acordou. Mas eu, como já realizei o meu compromisso social de hoje com dois comentários no Facebook sobre o câncer de mama, vou voltar para a cama e tirar um cochilo. #Partiu

Igor Luz

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Entre Marley e eu, prefiro Marley.

By Tavares 512   Posted at  11:10   Ihqueabuso












Numa situação de emergência, você salvaria Susaninha Vieira ou uma lontra? Você salvaria um petista ou o cachorro que te acorda babando na sua cara? Você prefere seu vizinho ou um pé de jabuticaba? Você prefere dar uma esmola pros pobres ou juntar dinheiro pra comprar Whiskas para o seu gato? Você gostou mais de À Procura da Felicidade ou de Marley e Eu? No caso do tigre que abocanhou o braço do menino, você ficou do lado do menino ou do tigre? Você aplaude mais o show de Beyoncé ou o pôr-do-sol? Qual presente te deixaria mais feliz: um casaco de pele ou um periquito? Picanha mal passada ou salada de cenoura, alface e beterraba? Se você respondeu o primeiro item na maioria dos casos, cê é uma pessoa maléfica que está cagando para a ecologia, o meio ambiente, a natureza, os animais, o ecossistema vivo, o efeito estufa, os lactobacilos vivos. Você é um ser cruel, incapaz de abraçar uma árvore ou cantar junto com os passarinhos. 

Se Deus preferiu os animaizinhos que subiram na Arca de Noé de dois em dois, os elefantes e os pingüins como filhos do Senhor, por que a gente vai agir diferente? Essas pessoas, incapazes de perceber o charme da lua, costumam alardear que nós, ecologistas, somos fanáticos que preferem planta e bicho do que gente. Sou desses. Por isso que, no lugar de um filho, eu vou ter mesmo é uma tartaruga. Bem melhor. Quando ela estiver incomodando muito é só colocá-la virada para cima embaixo da cama e deixar lá até a chateação passar. 

A natureza é tão bela e acolhedora. Se eu pudesse, ficava o dia todo subindo morro nas chapadas. Sim, sim, eu sei que são duas horas de subida para admirar uma paisagem por dois minutos e tchau. Mas, são nesses dois minutos que a gente consegue perceber a eternidade num grão de areia e entender todos os poemas jecas de Drummond. São dois minutos de silêncio, comunhão e sensibilidade que vão render inspiração para várias legendas no Instagram. Há aquelas pessoas que não acampam por causa das muriçocas e da falta de conforto. Pobres seres humanos que preferem ar condicionado do que o ar puro. O que são picadas de insetos comparadas ao contato com a natureza em um lugarzinho no meio do nada com sabor de chocolate e cheiro de terra molhada?

Lembrei do episódio do Simpsons que se passa no Rio de Janeiro. O Secretário de Turismo esperneou e achou um insulto eles colocarem macacos passeando pela cidade. Pois eu gosto mais daquele Brasil. Bem melhor macacos do que traficantes ou menino de boné de aba reta John John. Quem não sabe mensurar o valor do amor de um animal, sugiro que assista ao filme "K9 – Um Policial Bom Pra Cachorro". Em um ato de heroísmo, dignidade, paixão, defesa, sinceridade e emoção, o cão pula em frente a uma bala de revólver para salvar o seu companheiro. Toda vez que eu vejo essa cena meu rosto se umedece com lágrimas que caem belas e delicadas como gotas de orvalho na grama.

Tenho realmente pena das pessoas que não sabem o valor de bater um papo com uma samambaia. Essas pessoas que não conseguem sentir a emoção de sair na chuva sem guarda-chuva e colher flores no campo. Esses que nunca alcançaram a felicidade suprema de rolar na terra com o cachorro ou ensaiar cantigas com os passarinhos. Uma gente sem coração que escolhe uma vida carnívora e gás carbônica. Uma vida sem miau-au-au etc e tal. Uma vida sem votar no deputado que posa ao lado de um cachorro. Uma vida sem verde, sem amor, sem estrelas cadentes.

Entre vocês e a lontra? Eu fico com a lontra. Agora chega de texto porque é hora de pintar meu arco-íris de energia, pra deixar o mundo cheio de alegria.

Igor Luz

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Garçom, pede para abaixar o som e aumentar a dose.

By Tavares 512   Posted at  05:26   Ihqueabuso

Garçom, aqui nessa mesa de bar, você já cansou de escutar centenas de covers de Maria Gadú, Djavan e Ana Carolina. Saiba que o meu grande amor hoje vai se casar, e mandou uma carta pra me avisar que a gente não deu certo por causa do meu vício em boteco com música ao vivo. Eu culpo o shimbalaiê por destruir minha vida amorosa. Culpo também o vendedor de flores que ensinou aos seus filhos a escolher os seus amores.

Garçom, no bar todo mundo é igual: seja pra tomar conhaque ou banho de chandon, a gente quer mesmo é se reunir com os amigos para fofocar e reclamar da vida. É mil vezes melhor ouvir os últimos bafos da cidade do que ouvir qualquer música da Bossa Nova. É abissalmente melhor escutar reclamações sobre salários e relacionamentos do que escutar qualquer música do Jorge Vercilo.

Garçom, eu sei que estou enchendo o saco, mas não dá para aguentar duas horas de “quando a gente gosta é claro que a gente cuida”. Se o cara tem mesmo que cantar Caetano, pede pra diminuir só um pouquinho o volume, porque a amiga aqui quer falar mal das colegas de trabalho. E pede pra só me chamar pra cantar junto quando tocar Evidências, porque aí eu berro o refrão, jogo o braço pra cima, e defendo mesmo porque eu amo amo amo amo a música. “Eu quero ouvir você dizer sim, diz que é verdade, que tem saudade”. Evidências >>> ABISMO ABISMO ABISMO >>> toda a discografia do Chico Buarque e do Milton Nascimento. 

Garçom, mas eu, eu só quero chorar, eu vou minha conta pagar, por isso eu lhe peço atenção: 10 REAIS DE COUVERT POR PESSOA? TÁ LOUCO? Cês me empurram “a saudade bateu foi que nem maré” goela abaixo e eu ainda tenho pagar por isso? Mas tem o argumento que deixa em pedaços o meu coração: essa galera que canta em barzinho tem que trabalhar. Não deve ser fácil decorar todo o repertório da MPB e colocar o violão nas costas pra ganhar a vida. Mas não seria mais justo o bar bancar a atração já que eu tenho que bancar a catuaba? Daqui a uns dias vão cobrar na conta o papel toalha que a gente usa pra secar as mãos. E, por falar nisso, o bar está pagando o seu 10%, garçom? Porque essa galera pediu a Deus um pouco de malandragem.

Garçom, meu caso é mais um é banal, mas digo de coração: ou pede para o cantor de barzinho mudar esse repertório que nunca atualiza e fazer logo a festa com música animada e gritaria pra gente balançar o esqueleto, ou fala com ele pra cantar um pouco mais baixo porque a gente quer bater um papo aqui e não é obrigado a parar pra ouvir que “garotos não resistem aos seus mistérios, garotos nunca dizem não”.

Garçom, quero tomar todas e me embriagar, mas o cara está cantando “me faz pequena, asa morena, me alivia a dor” e eu imediatamente comecei a bocejar. Se eu pegar no sono, cê já sabe, garçom: me deite no chão.

Igor Luz


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A ideia do desafio é parar de encher o saco. #StopChallenge

By Tavares 512   Posted at  08:39   Ihqueabuso

Esses dias eu estava a dois passos do paraíso, quando me deparei com a cara da Susana Vieira sem maquiagem. Amo Sussu, que é gente como a gente e na Copa comprou uma camisa da seleção na 25 de março porque “a oficial era muito cara”. Amo Sussu porque ela se joga nos braços dos meninos do Rio, calor que provoca arrepio, dragão tatuado no braço, calção, corpo aberto no espaço. Amo Sussu porque ela não tem paciência pra quem tá começando. Mas a cara de Susaninha sem maquiagem nem o quadro Lata Velha do Luciano Huck daria jeito. Fiquei sem entender. O que aconteceu com o nosso anjo, mulher, rainha, musa Susana Vieira para divulgar uma foto sem make, sem argila, sem filtros? Por que diabos ela, que sempre foi uma deusa, uma louca, uma feiticeira, estava com aquela cara de maracujá de gaveta? Simples: estava participando de um desafio nas internets, o #stopthebeautymadness (pare a loucura da beleza). PARA É VOCÊS COM ESSA LOUCURA DE TANTO DESAFIO.

E quem é essa mulher ao lado de Su? Mas a gente não tinha combinado desde 2011 que a única negra que pode pintar o cabelo de loiro é a Beyoncé?

Já foi tanto desafio neste ano que se eu fosse citar tudo aqui o texto ia ficar maior do que o cabelo de Maria Bethânia. Aquele de jogar balde de gelo na cara para ajudar a divulgar uma doença séria e arrecadar uns trocados para pesquisa, por exemplo. Se você for o James Franco (VEM CÁ ME ABRAÇA), Madonna ou a Oprah Winfrey, até faz sentido chamar atenção para o negócio. Mas, minha linda, se você é apenas uma dançarina de frevo anônima de Cabrobró, pra que diabos pegar seu baldinho de plástico rachado e tirar a chapinha jogando água na sua bela poker face se cê nem sabe falar Ice Bucket? 

O #100HappyDays é outra coisa que me cansa. Mas, gente, quem nessa vida – com o preço do papel higiênico como tá – consegue ser feliz, ser alto astral, sorrir à toa, curtir numa boa e liberar geral 100 dias seguidos? Cês me parem de abuso porque nem a Angelina Jolie que acorda todo dia olhando pra Brad Pitt consegue. Pouco antes do desafio sem maquiagem, teve um pra jogar tinta na cara e se transformar em alguém famoso na vida, porque tempo tá sobrando mesmo, sei lá, vamos entrar na onda.

Tem aqueles desafios mais simples que lembram o Beija ou Passa do Orkut. “A ideia é encher o facebook blablabla você curte a música blablabla e eu te dou uma letra”. O que você enche mesmo é o nosso saco. Teve um conhecido que ganhou um L e soltou um Los Hermanos na minha timeline e eu exijo um pouco mais de respeito, por favor. E, claro, não posso esquecer do clássico “a primeira pessoa do bate papo é legal, a segunda é gay, a terceira pinta a unha de francesinha (NÃÃÃO!), a quarta já botou a mão no joelho e deu uma abaixadinha”. 

Pra não me chamarem de chato, quando vocês fizerem o desafio de perder 5 quilos ou ter o corpo do Cauã Reymond, me convidem que eu participo. Porque tá chegando o verão, calor no coração, a festa vai começar, e eu quero arrasar com o meu dragão tatuado no braço e o meu corpo aberto no espaço. Se eu ficar gostoso, participo daquele outro desafio famoso: postar uma foto sem camisa com um salmo da Bíblia na legenda. Porque, claro, não basta mexer com a tolerância dos mortais, tem que torrar a paciência de Deus. 

Agora, anda, vai tirar o gelo da cara e passar uma maquiagem, que a vida não te fez linda naturalmente.

Igor Luz

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Eu achei um cobertor que me deu tanto amor.

By Tavares 512   Posted at  07:21   Ihqueabuso


O maior problema do inverno conquistense não são as fortes chuvas que deixam as ruas intransitáveis e inundam até a alma sem salvação de vocês. Não, não. É difícil andar a pé enquanto o imbecil dentro do carro está cagando para sua pobreza e rasga o pneu numa poça de lama? É. Mas a gente cresceu se espremendo com o povão sem desodorante no ônibus, então isso a gente tira de letra. Os furacões de vento que obrigam vocês a dançarem frevo involuntariamente com o guarda-chuva também não é nada. Dá para aturar de boa, e a gente ainda faz coreografia. Nós não precisamos de aquecedor, mesmo porque NUNCA VI, NEM COMI, EU SÓ OUÇO FALAR. O cobertor chinil cor de abóbora sempre está lá, e este sim nunca me abandona. 

Na busca dos piores problemas do frio de Conquista, encontrei dois que precisam imediatamente de alguma atitude do governo e da sociedade: os cachorros com agasalho e Djavan no Facebook. Alguém precisa fazer alguma coisa. A gente atura lama no casaco que foi comprado em 10 prestações na Riachuelo. A gente suporta vento na cara e depois ficar o dia todo assoando o nariz com papel higiênico que mais parece lixa. O que não dá para aguentar é a prosa ruim nas redes sociais ou cachorro usando casaco quando a temperatura descer dois graus. Exigimos um pouco mais de respeito. 

Basta as águas de março fechar o verão e começar o outono que é sempre igual e as folhas caem no quintal que não tem erro: a galera mete um agasalho de lã cafona nos cães de elite e colocam os pobres coitados para se exibir na Olívia Flores. É fácil viver a vida sem aquecedor, sem carro e sem dignidade. Mas aguentar as cadelas da sociedade desfilando casacos de onça, de zebra e de padrão escocês, não sou obrigado. Alguém pode arrancar essas roupas caninas pra cobrir as piriguetes que insistem em usar tubinho e minissaia no Festival de Inverno? Brigado. 

No frio, arde o olho ter que ver vocês combinando touca e luva de croché. Sim, eu sei que Gisele Büdchen usou certo dia no aeroporto e que, vira e mexe, Ana Maria Braga aparece assim na Globo. Migos, Gisele pode usar calça corsário com tamanco, tic tac no cabelo e óculos com lentes transitions que ainda será uma diva rica. ELA pode tudo, favor não tentar em casa. E Ana Maria Braga já colocou dois cones de couro no peito para parecer Madonna, então nem vou comentar. Mas a gente releva o croché porque, sei lá, pode ser sua avó que costurou e seria uma desfeita não usar. O que não dá para deixar passar mesmo é “um dia frio um bom lugar pra ler um livro” nas internets todos os dias de chuva no telhado e vento no portão. É para furar o olho de tanta raiva. Djavan já é muito ruim sem vocês fazerem isso. Então, vem cá, e me ajuda a te ajudar, e para com isso. Diquinha de vida, sabe? 

Como eu sou um ser humano do bem, vou dar mais duas dicas importantes para o inverno. Blusa de gola alta para homem saiu de moda desde que Luciano Szafir usou em O Clone. Hoje em dia, só combina se você for podre do dinheiro e se chamar Otávio (melhor nome de rico). E, segundo minhas pesquisas, cachecol está proibido até no frio de menos 10 graus e é a cara do turista brega que visita o Sul. 

Enquanto estou aqui, enrolado no meu chinil abóbora que me deu tanto amor e que nunca deixa o frio tomar conta de mim, deixo vocês com uma imagem que fala mais do que mil palavras. A imagem que mostra o momento exato em que a gente percebe que alguma coisa deu errada na evolução humana.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Só mais uma selfie pra garantir, Eduardo Campos.

By Tavares 512   Posted at  07:06   Ihqueabuso



Essa semana foi o Dia da Fotografia. Eu já estava preparado para uma avalanche de mensagens cafonas no estilo “Eternizando Momentos” – utilizadas desde a infância do bisavô de Pierre Verger –, quando vi que a internet foi invadida por algo muito pior: as selfies com o caixão do Eduardo Campos. Sim: fotos. Sim: com o caixão do Eduardo Campos. Não: eu também não entendo. Mas parece que as selfies com caixão de gente famosa chegaram pra ficar e são a última moda entre a galera. Existem outras modalidades que têm o mesmo nível de retardamento mental: a selfie #aftersex e a selfie suicida. 

O #aftersex – já fora de moda e quem fizer será considerado brega – era de uma babaquice sem propósito, e consistia em postar uma foto depois de fazer sexo. A pessoa podia, sei lá, fumar um cigarro, pedir um sanduíche imenso (esse cara sou eu!) ou até mesmo continuar o tindolelê, mas não, bem melhor é contar para todos os cantos, encantos e axés que se deu bem naquela noite. Coisa de gente de pau pequeno. 

A selfie suicida já matou gente demais. Em busca de mais curtidas e seguidores, a galera escala morro e ponte de tamanho absurdo na tentativa de postar uma imagem radical, tipo “sou fodão”, “sou natureza”, “sou uma borboleta e posso voar”. #fly #liberdade #aventura Um casal polonês, uma jovem italiana e uma russa morreram dessa forma. Tem os idiotas que vão tirar foto com o veículo em movimento e – PLUFT! PLAFT! ZUM! – morre e não vai a lugar nenhum. E ainda tem o caso mais mongolóide de todos: um jovem mexicano foi tirar uma selfie com uma arma apontada na cabeça para, sei lá, ser legal, ser loucão, ser admirado pelo mundo, e acabou apertando o gatilho. #vidaloka #partiu

“Ah, o problema é a tecnologia”. Não é. A tecnologia é linda e está aí para a gente arrasar com as selfies no elevador fazendo biquinho (tá liberado uma por mês, migos). “Ah, isso é coisa de adolescente otário”. Não, não é. A foto que mais circulou entre as selfies com o caixão de Campos é de uma senhora que podia, sei lá, estar fazendo bolo para os filhos ou ariando a panela de pressão, mas estava no velório procurando o melhor ângulo do defunto sem deixar de escolher o seu melhor lado. O problema é a falta de roupa pra lavar, a falta de bom senso, a falta de dois tabefes na cara e a falta de um amigo querido que pega pelo braço e fala “migo, para pufavozinho, que tá feio”.

Gente, eu imagino que Deus é um cara que tem muito o que fazer: alimentar anjos, organizar chuvas em períodos de seca, aspirar o pó das nuvens, fazer reunião com os santos, derrotar as inimigas satânicas. E agora, depois de uma semana corrida em que ele podia estar, sei lá, saboreando um vinho e botando os papos em dias com Gabriel, Miguel, Rafael, Zuriel e Uziel, ele é obrigado a catalogar mais um tipo de morte – a selfie suicida. E se não bastasse isso, tem ainda que preparar a documentação da galera que anda tirando selfie com caixão para despachar a criatura lá para baixo. No inferno, esse povo vai eternizar momentos. #fogo #queimando #ÇOCORRO

11º mandamento: NÃO TIRARÁS SELFIES COM O SEPULCRO DO PRÓXIMO. #amém 


Ígor Luz Jornalista, cervejeiro e patife. Detesta plástico bolha e crianças que vão no Raul Gil. Só gosta de animais se eles forem de pelúcia. É vulgar sem ser sexy. É genial, mas se acha muito mais genial do que é.








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