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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Bebida - Subs. Feminino :Absintos e objeções num balcão de bar

By Tavares 512   Posted at  05:11   bebidasubstantivofeminino










É sempre assim: quando absorvo a quietude ao redor consigo observar o tamanho da bagunça. Finjo que abstraio os incômodos, porque nunca aprendi a obedecê-los. É essa vida, seu moço! Com seus abismos onde não cabe todo o meu abstrato. E suas obras que não preenchem a minha obsessão. Vou te contar um segredo: na caixa que guardei aquele retrato tranquei também o meu coração. Para de falar que está consumado, me deixa fazer uma objeção! E dizer que nem mais uma dose de absinto ou uma dúzia de abraços conseguiriam me fazer entender o que eu sinto e me livrar desse embaraço. Abre o meu peito, seu moço, lê o meu diário! Eu não sei mentir, eu só queria deixar claro: os meus olhos apesar de oblíquos nunca foram rasos. Abrevia essa conversa, não me obriga a dizer que o único fato absoluto é que meu desejo era obstinado.

Então não é a gente que abdica, mas o sentimento obtuso. É a hora em que as mágoas confrontam a abstinência e fazem da lembrança apenas um objeto antiquado e sem uso. Escuta, seu moço: amor e ódio estão sempre falando a mesma linguagem. Eu nunca obtenho respostas. Então absorvo esse silêncio empedrado e selvagem.

Só vou quebrá-lo mais uma vez pra confessar que eu quis obrigar o destino a me abrigar naqueles braços. Mas quando desliguei o abajur e me deparei com o obscuro, descobri que o óbvio nem sempre é claro – mas eu o vi. E ouvi o eco de um sorriso fino caindo ao fundo do poço. Não sei se isso me abala ou me obedece. Sinto apenas que é tudo obsceno e absurdo. Mas é a verdade, seu moço.






terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Você, o assassino e o estuprador

By Tavares 512   Posted at  10:06   bebidasubstantivofeminino




Eu costumo dizer que esses são tempos difíceis pra quem acredita no melhor das pessoas. Na última semana, eu fui levada a pensar dessa forma várias e várias vezes. Todo mundo já cansou de acompanhar a repercussão do discurso retrógrado da cantora Anitta em rede nacional. A gente também viu a pesquisa do Instituto Avon e Data Folha, divulgada pelo programa Bem Estar, apontado que 48% dos jovens brasileiros acham errado mulheres saírem sem os seus companheiros. Os que tiveram estômago um pouco mais forte, assistiram ao vídeo da jovem alemã espancada até a morte por defender meninas vítimas de abuso sexual. Ou da garota de 14 anos que teve 40% do corpo queimado pelo namorado, em Goiânia, após uma discussão. Ainda ontem, vimos que a capital indiana baniu a atuação de empresas de táxi online na cidade, após uma passageira ser estuprada por um motorista desse serviço.

Vocês podem estar cansados de ouvir, mas, feliz ou infelizmente, eu não me canso de falar. Ah, não mesmo. Fora dos holofotes da mídia e sem o calor da nossa indignação, casos como esses estão acontecendo, agora mesmo, em qualquer esquina por aí afora. Protegidos pelos muros de casas de famílias também. Apesar de toda a violência bruta me chocar, são os pequenos atos propagadores da superioridade masculina que mais me incomodam diariamente – porque é essa mentalidade que sustenta a violência. É essa a mentalidade que está nos costumes dos nossos pais, nos discursos dos nossos namorados, na postura dos nossos colegas de trabalho, nas atitudes das nossas amigas, nas conversas das mesas de bar. E, algumas vezes sem perceber, está em nós mesmos.

Você, que se acha certo porque não bate em sua namorada, apenas controla o tamanho da roupa dela – você sustenta a agressão. Você, que se acha certo porque se diverte ensinando o seu filho, ainda criança, a levantar a saia da coleguinha na escola – você sustenta a agressão, e tão logo o seu filho a praticará. Você, que chama de “viado” o cara que não quis ficar contigo ou que brochou na cama com você – querida, você sustenta a agressão. Você, que não acha nada demais uma mulher ouvir cantada na rua – você também sustenta a agressão. Anitta, você que acha que mulher não pode ficar com quantas pessoas quiser porque tem que “se dar ao respeito” - você sustenta a agressão. Garoto que esteve na plateia do Altas Horas e afirmou que terminaria com a namorada se ela saísse sozinha, porque “mulher é pra ficar em casa” - você sustenta a agressão. Jovens brasileiros, vocês que indicaram que mulher não deve ficar bêbada em festa, ir pra cama no primeiro encontro e que veem diferença entre “mulher pra namorar” e “mulher pra ficar” - vocês vergonhosamente sustentam a agressão.

Agora, sabe o marido que pratica violência doméstica? Sabe o cara que publicamente passa a mão no corpo de uma garota que está caminhando na calçada ao seu lado, ou aquele que se esfrega em uma menina num ônibus cheio? Sabe o chefe que assedia sua funcionária, moral e sexualmente? Sabe o namorado que jogou álcool e ateou fogo no corpo da adolescente por suspeitar de traição? Sabe o homem que assediou duas adolescentes e depois espancou até a morte a jovem que tentou defendê-las? Sabe o estuprador, aquele que aborda uma mulher sob tortura e faz sexo com ela a contra vontade, que se sente no direito de invadir o seu corpo e usá-la como um objeto? Aquele que repete esse ato a cada 12 segundos no Brasil? Eles fazem isso isso porque pensam igual a cada um de vocês. E em discursos como o seu, de subjugação feminina, não importa em qual esfera, eles encontram respaldo para fazer o que fazem. É isso mesmo. Sinto muito em ser eu a portadora da má notícia, mas se você é um homem ou uma mulher de pensamento e atitude machista, a ponte que separa você de um assassino ou estuprador é bem pequena. Sinta vergonha disso.

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

O dia em que eu trabalhei de ressaca.

By Tavares 512   Posted at  09:34   bebidasubstantivofeminino










Deveria ser o som do celular despertando, mas foi apenas a minha cabeça gritando de dor. Um pouco tarde, porém. Enquanto a luz invadia sem piedade as minhas retinas, o relógio na parede me informou, ranzinzo, que meu expediente havia começado há exata uma hora e vinte e oito minutos. Tentei pular da cama, mas pude ouvir a gravidade sussurrar: “Vamos ver quem manda aqui, gata.” A cabeça doeu novamente, o corpo pendeu pro outro lado da cama, um tequileiro imaginário girou minha cabeça e o estômago falou que não queria mais brincar disso. Vomitei no cobertor.

Quem nunca?
Mas minha apresentação aos fornecedores deveria começar pontualmente às 10, então, após um banho e 14 copos de d'água, lá estava eu sacudindo dentro do ônibus. “Vomitar não, vomitar não, vomitar não”, rezei. Enquanto eu controlava minha náusea tentando contar com uma ajuda divina-estelar, o cobrador me lançou um olhar desconfiado. Ele sabe. Todo mundo do happy hour que terminou em vodka na sala da Camila sabem. Eu derrubei a réplica de Caravaggio enquanto brincava de ministrar uma aula de zumba. Contei à Ester que o paquera dela é gay. Quebrei duas peças da louça de porcelana francesa. Passei trote pra atual do meu ex. Vomitei no chão do banheiro. Limpei a boca com o pano de chão. Mas ninguém tá te perguntando nada, seu cobrador.

Sobrinha passando mal no pronto-socorro e celular descarregado foram as desculpas que depositei na mesa do chefe. Mesa bastante parecida com a que eu subi ontem, na hora do clipe da Madonna. “Recuperar memória não, recuperar memória não”, orei devotamente outra vez. Fingi ler alguns papéis enquanto partia para o 21º copo d'água e 3º analgésico. Os fornecedores começaram a chegar. A fome devastadora que procede ao enjoo também. “Bom dia”, sorriu-me o Beto, segurando um bombom. Mas nem se eu estivesse sofrendo de subnutrição crônica iria aceitar um bombom do arrogante nojento do Beto! Beto. CARALHO, ONTEM EU PEGUEI O BETO! 

O grito só não se materializou no meio da recepção porque minha garganta continuava seca. Fiz uma promessa silenciosa às entidades que estavam me ouvindo – ou não – de que nunca mais eu iria beber. Nunca mais participaria de programas em véspera de expediente. Meu peito se comprimiu de dor, e eu não sabia se era a nobreza do arrependimento tocando minha alma ou se eram gases. Fiz a menina inocente de 15 anos que corre para o banheiro do colégio quando tem seus sentimentos feridos, pra chorar escondido. Sentei no vaso enquanto procurava as lágrimas, mas acho que elas também foram absorvidas pelo meu corpo em ressaca. Então olhei a tela do celular: faltavam 20 minutos para a reunião. Chorar uma porra. Vou tirar um cochilo.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Vou de táxi, cê sabe

By Tavares 512   Posted at  06:41   bebidasubstantivofeminino











Vou de táxi, cê sabe, tava morrendo de saudade de me jogar sem cerimônia no banco do fundo enquanto o meu “boa noite” denuncia o meu nível alcoólico. Cê sabe, adoro tentar decifrar o que significam aqueles códigos chatos que a mulher da central não para um minuto sequer de emitir pelo rádio.“Quarenta e dois, trinta. Cinquenta e quatro, noventa. Vinte e cinco, dez”. Adoro me sentir à vontade para traçar reflexões sociológicas com o taxista: “Moço, será que eu to muito bêbada ou todos os homens do mundo resolveram ser gays?” E receber o seu conforto: “Se preocupa com isso não, a senhora é muito bonita.” E eu te pergunto: quem nesse mundo vai te chamar de bonita depois dessa pele oleosa, chapinha destruída e rímel escorrido, típicos de fim de festa? Só o moço do táxi, cê sabe.


Vou de táxi, cê sabe, lá eu posso cochilar à vontade depois que explicar meu endereço. Nem me importo se o taxista ficar espiando o meu ronco pelo retrovisor. Ou se eu precisar pedir pra ele mandar aquela mulher chata calar a boca, porque tá atrapalhando meu sono. Depois de algumas cervejas, nada me parece mais confortável do que o sacolejar do táxi até a minha casa. Depois de ser obrigada a despertar com o terceiro “Moça, chegou!”, dá até vontade de morar lá na Loagoa das Flores – mas passa assim que eu olho o taxímetro. Desço catando a chave e pedindo para ele me esperar entrar em casa. “Vai ser mais fácil se a senhora tirar o sapato alto.” E eu te pergunto: quem mais nesse mundo vai se preocupar com a sua integridade física ao ter que subir três lances de escadas, em um leve estado de embriaguez, às duas e cinquenta da manhã? Só o moço do táxi, cê sabe.

Vou de táxi, cê sabe, é mais seguro pra mim e pros meus amigos. Eu sei que me acho uma motorista fantástica, que nunca vai cometer um erro bobo e arriscado. Eu sei que sempre digo que algumas cervejas não fazem mal algum ao volante. Eu sei, eu sei - também penso que tragédias só acontecem com os outros, admito. Mas, dia desses, eu percebi que poderia ter sido eu no lugar daquela garota do noticiário. Poderia ter sido ainda a amiga que foi de carona comigo. E qual o dano que um táxi pode trazer? O dinheiro deixado a pedido do taxímetro entra na conta de novo ao fim do mês. Danos de verdade são aqueles irreparáveis. Com o perdão do clichê, a gente tem um mundo imenso pra uma vida pequena. Então, vamos de táxi. Cê sabe, ainda queremos ir e voltar por muitas e muitas vezes.

Sâmia Louise

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Síndrome de puta

By Tavares 512   Posted at  06:41   bebidasubstantivofeminino












Mulher tem o direito de levar tudo na bolsa. Maquiagem, pente, absorvente, óculos, esmalte, lenço, kit de primeiros socorros, protetor solar, eu, você, dois filhos e um cachorro. Mas levar camisinha? Não, camisinha não é coisa de mulher. É coisa de puta. Já pensou se, ao fim da noite, vocês chegam aos “finalmente”, e a menina tira uma camisinha da bolsa? Puta, com certeza. Pode contar pros amigos.



Tudo bem, ela vai evitar o preservativo e os julgamentos. Mas o cara também não tinha camisinha na hora H. Transaram mesmo assim. Irresponsabilidade consensual. Mas a burrice foi só dela. Afinal, todo mundo sabe que mulher pode dar de todo jeito - mas pegar DST? Não, DST não é coisa de mulher. É coisa de puta. Já pensou se você descobre que a menina que você está saindo já precisou tratar um HPV? Puta, com certeza. Pode contar pros amigos.

Mas, antes de saber disso, você foi mais um que insistiu no sexo sem proteção. Ela cedeu. Irresponsbilidade consensual. Mas a burrice continua sendo apenas dela. Afinal, todo mundo está cansado de saber que mulher pode dar a você o quanto quiser - mas ter uma gravidez indesejada? Não, engravidar é coisa de puta. Se for do cara que ela estava apenas saindo, então, é puta com certeza. A uma altura dessas, nem se preocupe - todos os seus amigos já sabem.

Como se já não bastasse, a garota ainda tem a tola ideia de achar que pode tomar alguma decisão sobre si. Falou que tem vontade de abortar. Isso mesmo: abortar. Mas você já viu uma mulher direita querer abortar, meu amigo? Não, porque aborto é coisa puta. Puta burra e irresponsável. Puta que sabe “virar os olhinhos” na hora do sexo, mas não sabe assumir um erro. Isso mesmo, chamaremos um filho de erro, mas não admitiremos sequer a ideia de um aborto. Já pensou o que os seus amigos iriam dizer?

Porque não dá pra ser mulher sem se preocupar com o que vão dizer. Da hora em que escolhemos a nossa roupa ao momento em que decidimos tirá-la para alguém. Será que estou sendo puta? Então eu vou lhe dizer para se fazer outra pergunta: será que eu trouxe minha camisinha? O corpo é seu, minha amiga. É você quem decide se quer partir da festa para um motel com o cara que conheceu há algumas horas, ou se vai sair com ele mais cinco vezes e não passar do amasso. Independente do que seja, apenas se previna. Ah! E sabe esse tipo de homem que vai te medir dos pés a cabeça procurando onde te tachar de puta para os amigos? Ele não valerá o seu esforço de abrir o sutiã. 

Sâmia Louise

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Caí na balada. E agora?

By Tavares 512   Posted at  11:46   bebidasubstantivofeminino










Todo mundo já foi obrigado, na escola, a decorar a primeira lei de Newton: 1) Se não sabe brincar, não desce pro play. Aqueles que não decoraram, anotaram no fundo da borracha e foram ser grandes profissionais vida afora. O que poucos sabem, porém, é que este grande físico e exímio conhecedor da força gravitacional já era um defensor ferrenho da integridade física e moral das mulheres em pleno século 17. Foi quando, preguiçosamente recostado em sua macieira preferida, ele elaborou mais uma norma legal na Constituição Federativa da Física Universal: 2) Se não sabe se equilibrar, não sobe no salto.

Quem nunca foi protagonista de uma queda ou precisou acudir uma amiga caída abruptamente no meio da night que atire a primeira maçã. A força da gravidade não tem perímetros, não mede vítimas ou consequências. Ela simplesmente se aproveita daquele momento de mistura de emoções, de pé cansado sobre um salto alto e de diversos sabores alcoólicos. E então ela te puxa para o centro do universo, também conhecido como O Abismo da Vergonha. Já ouvi casos de quem já perdeu o salto da sandália. Perdeu a blusa nova. O paquera. Os ligamentos do tornozelo. Os dentes. E principalmente - a dignidade.

Se você é dessas que costuma fazer cosplay da Terezinha de Jesus – aquela que de uma queda foi ao chão - nem tudo está perdido. Sempre há algum truque que pode fazer você sair d’O Abismo da Vergonha com um pouco de honra. Afinal, sempre é possível fazer de conta que a queda faz parte de uma coreografia de hip hop. Ou fingir que está encenando uma peça de teatro onde você interpreta a bolsa de valores. Ou levantar falando pro boy que seu queixo caiu quando viu ele, e você foi busca-lo. Ou simplesmente se fazer de des-mai-a-da. O mais importante é lembrar que a dignidade pode ficar no chão, pois ela não é obrigada a encarar o púbico depois desse constrangimento. Mas você, querida Terezinha, erga a cabeça e siga em frente (se possível, sem trocar as penas). Afinal, já dizia a terceira lei de Newton: Se cair, levante.

Sâmia Louise

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Se beber, não customize.

By Tavares 512   Posted at  10:38   bebidasubstantivofeminino











Amiga, veste aquela “brusinha” do Lojão do 10, mas não customiza abadá. Usa crocs, pochete e boné de aba reta, mas não customiza abadá. Engessa tuas mãos, mas não corta ele em tirinhas, amarra fitas coloridas ou usa apenas 10% dele pra mostrar o biquíni por baixo. A gente não faz mais isso desde o fim da União Soviética e do Bom Xibom Xibombombom. Desde a insituição do Plano Real e do bloco das Muquiranas. Desde que o Sputnik 1 deixou a Terra e a Carla Perez deixou o É o Tchan.

Todos os tipos de partidos, ideologias, cantos, encantos e axé se unem nesta campanha. Vegetarianos, eunucos, mulçumanos, chicleteiros e tias no facebook: customizar abadá é crime. Capitalistas, socialistas, masoquistas, sindicalistas, xiitas e abolicionistas: se beber, não customize. Maçons, indies, parnasianos, elfos e a Sociedade dos Poetas Mortos: eu escolhi não customizar. Reacionários, cristãos, ONG's, skinheads e a União do Vegetal: abadá bom é abadá morto. Até mesmo os eleitores de Dilma e de Aécio estão undidos sob a mesma bandeira: o certo não é esconder a tesoura, mas ensinar a não customizar.

Amiga, guarda esses modelitos nas boas lembranças, junto com a calça corsário, o tamanco de acrílico e o cinto com lacres de latinha de refrigeranete e crochê. Mesmo os looks fashionistas, que fazem o abadá virar um vestido, um colete, uma frente única ou uma tomara que caia. Mesmo os looks criativos, que deixam o abadá com a cara do uniforme do cowboy do Velho Oeste ou do portão da Igreja do Senhor do Bomfim. Mesmo os looks que valorizam o seu corpo, seja em formato de burca ou de forro de sutiã. Supera. Deixa os laços enfeitando as alças da blusa da festa ficarem apenas na fotografia, junto com os laços invisíveis do que havia.

O Leoni agradece. O cara do caramba-cara-cara-ô agradece. A família brasileira agradece. Afinal, customização de abadá não tem graça. Tem cura.

Sâmia Louise

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Se for pra agarrar à força, que seja a sua Playboy

By Tavares 512   Posted at  06:49   bebidasubstantivofeminino










Tire suas mãos de mim, que eu não pertenço a você. Não é agindo como um primata irritante que você vai me convencer. Posso ser considerada o sexo frágil, mas eu sei muito bem quem eu sou. Você pode até duvidar, mas “não” é “não” em qualquer lugar do mundo – seja no Fuso Horário ou no carnaval de Salvador. Você pode continuar duvidando, mas há mulheres que simplesmente não te querem – seja você o garoto propaganda da Vivo ou o sósia do Caio Castro. Moral da história: não é tentando me agarrar à força que você vai convencer. 

Será que você é só mesmo esse grande babaca? Será que não já passou da hora de crescer? Sim, crescer. Não, não estou falando de altura, barba e músculos. Estou falando de se tornar homem. HOMEM. Porque só homem de verdade entende a diferença entre um charme e uma clara negativa. Só homem de verdade sabe se ele tem chances diante da indecisão. Só homem de verdade percebe o limite entre a cortesia e a inconveniência. Só homem de verdade tem a manha de usar um fora a seu favor, ou simplesmente o bom senso de partir para a próxima. E o mais importante: homem de verdade, ao invés de andar cuspindo que mulher tem que se dar ao respeito, sabe respeitar uma mulher. 

Mas se você acha que manter uma garota se debatendo em seus braços enquanto você tenta enfiar a língua na boca dela é a grande diversão da noite, tenho uma notícia pra te dar: você é um moleque. Se você se aproveita de um momento de distração pra mirar na boca dela, você é um moleque. Se você acha que a sua força física é o melhor que você tem a oferecer a uma mulher numa balada, então você não é apenas um moleque, como também é um agressor e um ser humano deplorável. 

Se você está me lendo agora, moleque, fica o meu conselho. Se quer agarrar alguém à força, que seja a última modelo capa da Playboy. Vá tomar um banho demorado. Agarre a revista de um lado e a você mesmo do outro. Isso mesmo: se masturbe. Se masturbe à vontade. Quantas vezes for preciso. Se masturbe até satisfazer todos os seus instintos primatas. Apenas se masturbe. É isso o que moleques levam muito tempo fazendo até aprender a lidar com uma mulher.

Sâmia Louise

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Eu mostro a minha fúria

By Tavares 512   Posted at  06:29   bebidasubstantivofeminino



Ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos anjos, não conseguiria expressar a minha perplexidade toda vez em vejo um ser humano dito racional derramando uísque em festa. Não que me doa o desperdício, pois eu odeio uísque. Mas me dói, no fundo da minha alma armada e apontada para a cara do sossego, a falta de boas referências, de amigos e de roupa pra lavar desse pobre coitado. Faltou um “para que tá feio” no pé do ouvido. Faltou Havaianas de correia azul no meio da bunda. Faltou uma massagem com o óleo de amêndoas Paixão para acalmar os ânimos desse espírito possuído, enquanto a gente tem a chance de esconder o litro dele.

E já que paz sem voz não é paz, é medo, aqui vai a minha corajosa contribuição: amigo, essa história de ostentação e luxúria é só pra compor as músicas que vão tocar enquanto a gente quebra no São João de Ibicuí. São só algumas rimas toscas gritadas ao ritmo do momento. Não é para levar a sério, acredite. Rasgar dinheiro? Postar foto de notas de 100 reais toda sexta-feira? Tomar banho de Chandon? Para que tá feio. Para logo, antes que eu seja obrigada a te dar uma surra de Havaianas.

Mas se ainda assim você insistir que é desse jeito que rico vive, peço apenas que, por favor, não se aproxime. Cante o “Bonde da Ostentação” o quanto quiser, só não me cante. Já ouviu dizer que a sua liberdade termina onde a minha começa? Não, não é um novo hit pro seu paredão. É só pra dizer que a sua catarata de champanhe com certeza vai me deixar ensandecida, mas que ao menos seja de uma distância segura onde ela não possa respingar em minha roupa. Não adianta botar boné da John John e copo e uísque na mão. Não adianta ser Friboi ou estar na moda. Não adianta nem mesmo pendurar no pescoço a armadura de um exército de Game of Thrones. Não, eu não vou pro seu mundo.

Estou melhor aqui, fora da sua área VIP. Curta à vontade o seu carro rebaixado e a mulher do patrão. Espalha mais dinheiro pelo mundo, rasgado em pedaços. Derrama mais uísque, que de lá de cima o Senhor derrama sobre nós o seu amor. Pois o amor é bom, não quer o mau, não sente inveja ou se envaidece. Perdoa, Senhor, esse ser que não sabe o que faz. E, por favor, enquanto ele faz questão de mostrar a sua vida mais ou menos, absolve a sua alma e não queira mostrar a Sua fúria com tanta babaquice. 

Sâmia Louise



terça-feira, 30 de setembro de 2014

Hoje tem doses de vodka. E de likes.

By Tavares 512   Posted at  13:21   bebidasubstantivofeminino












Hoje tem festa no gueto, e eu já carreguei a bateria do celular pra não perder nenhum dos momentos que são meus e que não abro mão. Sabe como é: eu, eu mesma, euzinha não posso deixar de tirar fotos no espelho pra postar no Facebook. Atualizar o álbum "Por aí" é minha principal meta de vida no fim de semana. Afinal, a internet está mais uma vez ansiosa para saber que hoje eu só volto amanhã. Coisa de gente #top. 

O ensaio começa assim que termina a arrumação. Há todo um segredo de contorcionismo na frente do espelho, para caber peito, bunda e bico em seus melhores ângulos. Escolho uma legenda abençoada: "A menina dos olhos de Deus". Depois, experimento alguns cliques com a câmera frontal. Aí é que surge a dificuldade: escolher a que estou sexy com a língua de fora, a que seguro a franja pra mostrar minha tatuagem de infinito no pulso ou mais um biquinho? Tá resolvido: faço uma montagem com todas elas. Clarice Lispector, CFA e Tati Bernadi que me perdoem, mas vou com a legenda "hoje eu passei batom vermelho". Sabe como é: melhor avisar caso alguém não perceba. 

As amigas buzinam lá fora. É hora de começar os trabalhos. É que hoje eu só quero que o dia termine bem, e bem significa o efeito de uma boas doses de vodka. Ou de likes. Todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite, afinal. Então vamos enfileirar os drinks para o flash e pedir “que seja doce”. Sem esquecer o tradicional beijo no litro de uísque. “Vem pro meu mundo.” É o que tem pra hoje. Desculpa, só os loucos sabem. 

Em uma noite cheia de pipoco e ousadia e alegria, é preciso espremer a galera toda pra caber na dimensão do Instagram. “Vamos viver tudo o que há pra viver”! Tudo nosso. Estourado. Inclusive o pacote de internet, que já teve a velocidade reduzida e não consegue carregar mais nenhuma imagem. Não tem problema. Amanhã, quando eu estiver segura nos limites de wifi, eu mando um beijinho no ombro pro seu recalque e posto o restante. “Sobre Ontem” – mas se eu tiver alguma coragem pro Google Tradutor, vou lançar um About Last Night. Com luxo e com poder. 

Afinal, Deus está no comando e é assim que a felicidade vira rotina. Pois do que vale a diversão se não tiver exibição? #sdv #like4like 

Sâmia Louise







terça-feira, 23 de setembro de 2014

Garçom é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito

By Tavares 512   Posted at  07:44   bebidasubstantivofeminino












Você passa mais de duas décadas da sua vida acreditando na lenda de que a sua mãe é o ser que mais te ama no mundo. Até que você acorda numa puta manhã de TPM, toma um banho gelado ao mesmo tempo em que descobre que sua energia foi cortada por atraso de pagamento e sai de casa toda amassada. Sem café da manhã, já que na briga com o relógio, ele ganhou mais uma vez. Então o engarrafamento materializa o atraso, o chefe dá piada, o fornecedor não atende, o relatório não fica pronto, o café esfria e a cólica ensaia homicídio. Ao fim do dia, a única coisa que você recebe da sua mãe é uma corrente de Nossa Senhora da Aparecida no whatsapp, prometendo te contagiar com a Peste Negra caso não seja lida e repassada. Mas, não se desespere. Ainda existe alguém nesse dia infeliz e cruel que vai te dar tudo que você precisa com um simples gesto: o garçom do bar.

O garçom é o melhor amigo que uma mulher pode ter. Um sentimento tão puro e sincero que nem Milton Nascimento pode conhecer na composição da singela Canção da América. É que se eu choro a TPM, o garçom traz cerveja. Se reclamo do trabalho, ele traz cerveja. Se estou com problemas com o namorado, ele traz cerveja. Se estou em desespero pelo acúmulo de matérias pra estudar, ele traz cerveja. Se estou feliz pela aprovação em uma seleção, ele traz cerveja. Se eu quero que seja doce, se quero que o dia termine bem, se quero um homem pra dar lipo e silicone, se quero ser bem mais que amante – ele traz cerveja. Se eu quero de novo o seu beijo bem gostoso, se quero você (como eu quero), se quero mais que um, mais que mil e mil e um, se quero tchu, se quero tchá – ele traz cerveja. Não importa quais sejam os anseios, medos, conquistas e metas em nossa vida. Tudo o que nós precisamos é de um garçom pra chamar de “migo”.

Eu não sei vocês, mas eu já tive garçons de todas as cores. De várias idades, de muitos amores. Garçons cabeças e desequilibrados, garçons que consoloram meu choro e riram comigo (e de mim). Garçons que também desabafaram porque o bar não repassa dos 10%. Garçons que largaram o trampo e se sentaram pra beber com a minha galera. Garçons que sempre atendiam ao pedido de colocar um pouco mais de vodka e traziam bombons junto com o troco. Desculpa, mãe, mas existem garçons que são realmente o melhor amigo que uma mulher pode ter. Desses pra se guardar debaixo de sete chaves, do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar. Por sinal, sexta-feira é uma boa pedida. 

Sâmia Louise

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Manifesto em defesa das mulheres que frequentam bares sozinhas

By Tavares 512   Posted at  06:32   bebidasubstantivofeminino

A gente não quer só comida, a gente quer comida (óbvio), diversão e uma mesa de bar só nossa. A gente quer o direito de fazer o clube da Luluzinha regado à cerveja e música ruim. A gente quer soltar rimas antes de virar a dose de pinga sem olhares nos fuzilando da mesa ao lado. A gente quer brindar à casa, brindar à vida (meu amor, isso é só desculpa pra tomar mais uma). Ah, sim, a gente quer poder tomar mais uma. E mais outra. Nós queremos tomar quantas bem quisermos, sem ter que dar justificativas ou receber rótulos. É que a gente é mulher, mas não é tuas nêga.

Não sei quem andou espalhando por aí que os meus cromossomos X estão à inteira disposição de um tribunal de júri. Sou julgada se dirijo um carro ou a presidência da república. Sou julgada se entro no mercado de trabalho ou no boteco da esquina. Se eu estou bebendo apenas entre mulheres, alguma coisa está errada – ou eu sou “periguete” ou eu sou “sapatão”. Se hoje eu passei batom vermelho e dei uma risada alta entre as minhas amigas, “só pode tá atrás de macho”. Se hoje eu passei batom vermelho, mas recusei a bebida oferecida pelo cara da mesa ao lado, “não gosta de macho, só pode”. Se hoje eu passei batom vermelho e (AGORA PARE! pegue no bumbum troque essa legenda, por favor).

É que a gente não aguenta mais essa análise comportamental que nos reduz a simples instrumentos sexuais. Não, meu caro, a gente não vai a bares unicamente porque está querendo encontrar machos ou moças. Muitas vezes, nós queremos apenas beber uma roska de kiwí enquanto desabafamos sobre os problemas familiares e as contas para pagar. A minha minissaia, o meu cigarro, o meu decote, a minha dança ou as direções dos meus olhares não querem dizer nada a você. Deixe em paz o meu copo, o meu corpo, o meu papo e o meu riso. Se você está preocupado se eu quero homem, mulher ou cerveja, saiba que eu quero mesmo é distância de gente com pensamentos tão medíocres. E antes de medir o meu grupo de amigas, meça primeiro a sua combinação de listras com estampa e os erros de português no seu status do Facebook.

Mulheres que vão sozinhas a bares são apenas mulheres que vão sozinhas a bares. Isso mesmo, ponto final. Pare de querer nos enquadrar nos seus rótulos mesquinhos. Pare de achar que pode avaliar o tom da nossa voz. Pare de pensar que pode nos dizer o que vestir. Pare de nos dizer qual é a curva mais bonita do nosso corpo (sorriso é uma ova, a minha curva mais bonita é e sempre será a da barriga cheia). Cheia de cerveja, comida, diversão e arte. Cheia de frio por conta de novidades que quero compartilhar com minhas amigas no próximo happy hour. Cheia até mesmo dos “periguete” e “sapatão” que sou obrigada a engolir por aí frequentemente.

Mas, adivinha só, enquanto você continuar fora de moda vestindo listras com estampa e essa bandeira medonha de ignorância, muitas mulheres como eu vão continuar preferindo encher a barriga de roska de kiwí e borrar o seu batom vermelho unicamente com o copo. É que nós somos mulheres, no sentido mais literal da palavra. E não as tuas nêga. 

Sâmia Louise

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Primeiro encontro: quem paga a conta?

By Tavares 512   Posted at  08:06   bebidasubstantivofeminino

Tudo começa com um mano, uma mina e uma mesa. Estamos falando dos primeiros encontros, da fase da conquista. Eles resolvem ir a um barzinho ou restaurante para se conhecer melhor. Vão demonstrar interesse em conversar sobre o último debate dos candidatos à presidência da república e a suspeita de atentado terrorista no Chile, quando na verdade a maior preocupação é descobrir se o beijo da tua boca tem sabor de fruta fresca. Ele vai fingir que precisa atender várias ligações, só pra ostentar o seu iPhone de última geração. Ela vai fingir que está satisfeita com apenas um temaki, já pensando na lasanha à bolonhesa que sobrou do almoço. Vão tomar vinho, trocar olhares, sorrisos e avançar uma casa no jogo da sedução. E então é hora de deixar o local, e o garçom chega com o valor de consumação da noite. E eu vos pergunto: quem vai pagar as contas desse amor pagão?

O assunto é controverso. Pedi ajuda aos universitários no Twitter (melhor universidade <3), e a galera dos 140 caracteres mais uma vez não me decepcionou. 

“Meio a meio, sempre”, defenderam as meninas que, como eu, adoram um show pirotécnico com sutiãs.

“Não precisa de um discurso feminista sobre um gesto que é puramente questão de cortesia”, devolveu um macho alfa.

A menina que cresceu assistindo aos clássicos de Princesas da Disney foi enfática: “Os homens pagam [suspiro].”

A que cresceu assistindo aos clássicos de Princesas da Disney, mas já teve oportunidade de tomar bons coices do cavalo branco, retrucou: “Não sou obrigada a rachar a conta quando tenho que aguentar todas as sacanagens do sexo masculino!”

Há ainda os adeptos à tradicional premissa do “quem convidou paga”.

“Depende muito da pessoa, da relação, da ocasião.” Esse é o boy moderno que espera rachar a conta, mas vai preparado pra arcar com o seu vinho, caso você não faça menção de abrir a bolsa.

E provando que sobra em inteligência o que falta em limite de cartão de crédito na classe, uma amiga jornalista foi direta: "Quem ganha mais, óbvio."

No terreno da intimidade, é claro que tudo está liberado: eu pago hoje, você paga amanhã, a gente racha no sábado e, no fim do mês, penduramos. Mas na fase do flerte, quando a gente ainda mente que lê Nietzsche, tudo fica mais delicado. E é por essas e outras que eu tenho certa preguicinha de primeiros encontros. Na maioria das vezes, os garotões vão insistir na “cortesia” de pagar tudo. O garçom vai aguardar (im)pacientemente à mesa, enquanto o mano saca mais uma vez o seu iPhone 5s com uma mão e rejeita o dinheiro da mina com a outra (porque não importa se você é feminista, budista, marxista ou princesa de Jó, sempre se ofereça para pagar, vlw flw?). E num primeiro encontro, normalmente nos sentimos intimidadas em espantar o boy com um discurso sobre a opressão do homem que paga a conta e a sua contribuição para o reforço dos valores machistas na sociedade moderna. Ainda que a gente minta que é a nossa tese de mestrado. 

Particularmente, eu prefiro ficar com a pureza das respostas das crianças: eu pago a minha parte, você paga a sua, todo mundo vive a sua vida, que é bonita e é bonita. Sou do time feminista que acha que, se nós queremos direitos iguais, temos que tratar os deveres da mesma forma. Por isso que eu tenho mais afeição por segundos e terceiros encontros, quando a gente já conhece o sabor da fruta fresca e o terreno está preparado para a queima do primeiro sutiã. E o mais importante: já podemos pedir dois temakis. Ou três.

Sâmia Louise

terça-feira, 2 de setembro de 2014

É que eu também passei por esses maus bocados (e mandei mensagem pro ex)‏

By Tavares 512   Posted at  13:48   bebidasubstantivofeminino

Há três coisas que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a oportunidade perdida e a mensagem enviada ao ex no meio da cachaçada. A notícia ruim é que esse mal torna vulnerável todo homo sapiens que tem um coração dividido entre a esperança e a razão. E que pode parcelar um celular de R$ 89,99 na Instinuante, é claro. Se o seu currículo é sujo, minha amiga, não se reprima. Todo mundo já passou por esses maus bocados, chorou, bebeu largado e gritou de pânico ao olhar a caixa de SMS ou Whatsapp no dia seguinte. Você pode reclamar da dor de cabeça, enjoo e garganta seca, mas a ressaca moral é e sempre será a sua pior inimiga. Nada de desejar vida longa, pelamor.

A gente sabe que decepção não mata, ensina a viver. O Facebook está aí todos os dias para lembrar essa valorosa lição. Mas acontece que após algumas doses de tequila, a gente esquece lições de vida, de bom senso e de gramática. Lá estamos nós escorregando pelo touch screen e tropeçando pelo corretor automático. Cheias de autoridade e razão, lógico. E o que na nossa expectativa irá parecer letras douradas num papel bonito, na realidade será uma mistura de letras embaralhadas e frases sem sentido. Na melhor das hipóteses, a sua declaração de amor/confissão de saudade/mandato para a merda/tentativa de puxar conversa casual será tão ilegível, que há alguma chance de depois usar aquela velha, clássica e furada desculpa: "foi engano". Mas se o seu ex for bom na arte de decifrar japonês em braile, então você terá um belo problema para cuidar no dia seguinte. Junto com a dor de cabeça, enjoo e garganta seca.

Mas o Facebook também nos ensinou que a vida é feito uma roda gigante: uma hora você tá em cima, outra hora você tá embaixo. Então aqui vai a boa notícia: essa fase passa. Passa a ressaca, passa a vergonha, passa negão, passa loirinha, quero ver você passar por debaixOPS PERA. Passam outras mensagens pelo celular. Passa mais tequila e limão goela abaixo. 
Passa até mesmo a lembrança do número do maldito (sim, a gente sabe que você apagou da agenda, mas continua sabendo de cor). E uma hora você vai estar tão bem consigo mesma, que não vai haver espaço nem mesmo para um friozinho na barriga quando receber um "saudixvde" dele em uma madrugada qualquer. Bobinho, ainda não aprendeu que bebida e celular não combinam. Só falta aprender que não há volta para uma flecha lançada. Porque sobre oportunidades perdidas... Ah, sobre isso ele deve saber bem.


Sâmia Louise

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O cara da mesa ao lado

By Tavares 512   Posted at  07:59   bebidasubstantivofeminino


- Ei, moça, meu amigo tá pedindo o seu telefone.
- Dizem que quem tem boca vai a Roma, e o seu amigo não é capaz de vir até a mesa ao lado?

Caminhando e cantando e seguindo a canção, certo dia cá estava eu voltando de uma reunião para casa. O percurso já era bastante habitual - carros passavam, pedestres passavam, estudantes fardados com risadas irritantes passavam. Mas, do outro lado da rua, senti que havia algo destoando da cena – não se mexia. De uma olhadela de canto de olho, vi que era um homem parado. Exceto pelo pescoço, que se movia na mesma direção que eu. Olhar é pouco, o que esse indivíduo me lançava ainda não tem nome. Me assustei. Havia algo estranhamente diferente de uma simples e odiosa manifestação indiscreta de testosterona. Estava muito claro e movimentado para uma investida de assalto. Meus pais não têm carro, não têm teto não têm dinheiro pra pagar um resgate de sequestro. O que significava aquilo? Arrisquei olhar novamente, e lá estava ele, me fuzilando. Apressei o passo, temerosa.

Após alguns metros, entrei em uma panificadora perto da minha casa. Essa atitude já era bastante habitual – sorri para as atendentes e devolvi um “sim” ao padeiro, quando ele percebeu a minha presença com um “integral, lôra?”. Peguei minha sacola de pão e virei para ir embora. E então lá estava o indivíduo, bem ao meu lado, me olhando. Pulei de susto, literalmente. Virei as costas e cheguei em casa tão rápido, que se houvesse um número em minha camisa, eu já podia ser despachada pro Olívia Run. Subi as escadas ofegante, guardei o pão e peguei o celular. Havia uma notificação no whatsapp. O número era desconhecido. A cara que apareceu na foto de perfil era a mesma que me encarava há alguns minutos. Era ele. Meu queixo caiu.

CIA? KGB? Comando Vermelho? Marcianos invadindo a Terra? Comensal da Morte? Super Saiajin em busca das esferas do dragão? De repente, uma série de possibilidades óbvias passaram por minha cabeça. Só fui interrompida quando minha colega de apartamento chegou, e depressa relatei o ocorrido. Mostrei a foto. "É o cara da mesa ao lado", ela respondeu. Eu, sempre péssima em questões de memória e especialmente com fisionomias, ouvi ela contar que o Super Saiajin estava compartilhando uma mesa bem ao lado da nossa, há cerca de uma semana, em um barzinho que visitamos com frequência. A essa altura, ele já havia narrado a mesma versão pelo whatsapp. Só que a sua história veio completa: ele pediu o número a um amigo em comum que viu me cumprimentar na mesa. O nome do tal conhecido não foi revelado, então, se estiver lendo isso agora, reze três Salve Rainha em agradecimento à sua vida.

Passado o susto e bloqueado o cara, passei a me questionar sobre esse velho tema de redação de vestibular: tecnologia, a favor ou contra o homem? Não se engane: o flerte online tá liberado. Iniciar um papo por whatsapp com alguém que você nunca teve oportunidade de conversar a fundo pessoalmente tá liberado. Curtir 30 fotos seguidas da pessoa do Instagram tá liberado. Pesquisar o nome no Google tá liberado. Cutucar no Facebook OPS PERA. Mas tem coisa melhor do que escrever a lenda dessa paixão cara a cara? Estou falando de troca de olhares e sorrisos de canto de lábios. Estou falando de voz, cheiro e expressão corporal. Estou falando de toque e de hálito de cerveja no ouvido. Estou falando de gente que tem todas as ferramentas para investir nisso, mas prefere pedir um número a um conhecido. De gente que, sem sair da sua cadeira, pode perceber se há chances de rolar - mas ainda assim pede ao garçom para ir até a pessoa com um sedutor "aquele cara ta pedindo seu telefone". Sua broxa, meu amigo, começa aí. 

Bares são ambientes totalmente favoráveis às iniciativas de flerte - disparadamente melhores do que panificadoras, por sinal. Até mesmo as pessoas que só costumam ter olhos para o seu copo de cerveja (presente!) vão perceber em algum momento de descuido um olhar de interesse. Pronto, é aí que começa o jogo começa. Se a pessoa retribuir, jogue o dado e ande uma casa. Se não der espaço, aceite o game over que dói menos. Dessa forma, você poupa maiores constrangimentos, ou simplesmente pode ouvir a própria pessoa soletrar o seu número de telefone para você. A vida é mesmo sobre correr riscos, afinal. E o último risco que uma pessoa normal gostaria de correr é ser confundida com o Super Saiajin. Porque nesse caso, meu amigo, vou apenas desejar sorte no jogo das esferas do dragão - já que no amor o fracasso é certo. 

Sâmia Louise


terça-feira, 19 de agosto de 2014

A Profecia da Amiga de Banheiro

By Tavares 512   Posted at  07:03   bebidasubstantivofeminino

Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres que levanta de 10 em 10 minutos para ir ao banheiro quando está bebendo. Não adianta cara feia, choro, nem vela. Não adiantam expressões exclamativas a cada vez que a gente ameaçar arrastar a cadeira. E diante da curiosidade sobre o que nós tanto fazemos quando nos dirigimos para lá em grupos de amigas, também não adianta a piadinha tosca e mezozóica de que "uma mija e a outra sacode". Sobre mulheres e banheiros, aqui vai a minha primeira revelação, que nem mesmo o mestre Poirot poderia lhe oferecer na melhor inspiração de Ágatha Christie: em casos de emergência, nós também podemos nos sacudir sozinhas. 

A verdade é que todo esse mistério que ronda a relação mulheres x banheiros começou bem cedo. Muitos séculos antes de a Virgem Maria convidar o anjo Gabriel para entrar e tomar uma xícara de café, Júpiter acabava de acordar em sua 354 x 10³ manhã de TPM, e como de costume, sentiu-se maior do que o normal. Demorou-se um pouco no trajeto da sua órbita para chorar escondido. Enquanto isso, a Terra seguia sua tediosa caminhada diária e colocou-se no caminho. "Miga, o que cê tem?", solidarizou-se. E então foi inevitável: abraçaram-se por meio de partículas cósmicas. O que ninguém sabia é que, lá no fundo da fila, Netuno - sem saber de nada - estava distraidamente na mesma posição que as companheiras. O alinhamento dos três planetas produziu uma energia peculiar, que refletiu na terceira lua de Saturno e eclodiu pelo universo. Ela cruzou a Via Láctea, secou as toalhas de alguns mochileiros das galáxias, deu um alô ao Pequeno Príncipe, inspirou o primeiro ancestral do João Bidu e pairou diretamente sobre o céu da terráquea civilização maia, mais precisamente sobre duas crianças que brincavam de jogo da velha numa parede rochosa. Nasciam ali as misteriosas inscrições do que muito mais tarde seria traduzido como a Profecia da Amiga de Banheiro.

Os maias estavam certos. E o John Green passou perto: a culpa não é das estrelas, mas estava ali ao lado o tempo todo. O fato é que esse destino traçado na maternidade faz as mulheres desenvolverem um instinto fraternal e receptivo a cada vez que se dirigem ao banheiro de um bar ou balada. Ao contrário das raízes sócio-históricas e metafísicas da Profecia, não há um roteiro exato sobre o que as Amigas de Banheiro conversam. Estudos científicos apontam que a variante está diretamente ligada à sua personalidade, nível alcoólico ou estado emocional. Elas podem comentar sobre a cantada ridícula do cara da mesa ao lado, sobre a crise de ciúmes desmedida do namorado, sobre a vagabunda que está com o ex, sobre o batom babado que você está usando. Podem desabafar sobre o chefe, a falta de dinheiro, a louça pra lavar, o preço da gasolina. Podem também ter uma breve discussão sobre as contribuições de Van Gogh para o fauvismo europeu. 

E não se engane - mesmo quando uma mulher for sozinha ao banheiro, o poder da Profecia não vai se intimidar. Sabe como é: o exército maia é pesado e tem poder. Prepara: a mulher vai fazer amigas na fila, no espelho, na cabine. A depender da sua personalidade, nível alcoólico ou estado emocional, pesquisas revelam que ela é capaz de fazer promessas de pacto de sangue e organizar uma festa de pijama em 10 minutos. Algumas vão apenas murmurar um singelo "oh" a cada relato ouvido, outras vão relatar traições, problemas no emprego, cotação da bolsa de valores ou o desempenho do último paquera na cama. Ah, e também vão fazer muitas selfies, é claro. "Pera, mas meu lado bom não é esse. Ok, agora mais uma pra garantir." 

Não adianta repassar correntes de oração no whatsapp, nem isolar três vezes na madeira. Todo mundo é vítima da Profecia da Amiga de Banheiro. Sejam as emissoras/receptoras do poderoso chamado "Miga, o que cê tem?", sejam os donos dos nomes próprios listados a partir daí. E aqui fica a minha última revelação: se você é desses que sempre olha duas ou mais mulheres indo ao banheiro juntas com "uma mija e a outra sacode" na ponta da língua, certamente o seu nome será o próximo. Sabe como é: os maias não perdoam. E nós também não.


terça-feira, 12 de agosto de 2014

Mulher que Bebe é Feio

By Tavares 512   Posted at  07:56   bebidasubstantivofeminino


Sim, mulher que bebe é muito feio. Concordo plenamente. Não fica nada bonito posar com os cantos dos lábios borrados de batom, após encontros consecutivos com o copo. O resultado não é agradável. Por isso, sempre que eu saio para beber, levo uma amiga ao lado ou um espelho na bolsa. Não que eu vá dar muita importância aos retoques depois de algumas doses de vodka, mas gosto de me sentir prevenida caso encontre um babaca cuspindo por aí que "mulher que bebe é feio". Vou limpar o borrado com um guardanapo, pintar os lábios novamente e continuar linda. Não antes de pedir outra dose, certamente.

Beleza é opinativa, é claro. Particularmente, o que eu acho bonito é a mulher que sabe ser dona de si. Que decide a roupa que vai usar, o lugar que vai frequentar e se sente segura na hora de fazer o seu pedido, seja ele um suco de laranja ou um conhaque. Bonita é a mulher que não se intimida com os discursos que tentam nos oprimir. Que vai pedir água com gás ou pinga com limão - a depender unicamente da sua vontade, humor ou TPM. Porque ela não precisa ser dama na mesa, nem em lugar algum. Ela só precisa ser ela, e ponto.

Gosto é pessoal, é claro. Particularmente, eu sou dessas que gostam mais de cerveja do que de muita gente. Dessas que adoram uma mesa de boteco, e que só costumam ir embora depois da terceira saideira. Dessas que vivem prometendo dieta, mas não resistem a uma boa farofa de torresmo. Que vão passar horas com os amigos rindo de piadas infantis, chorando o salário atrasado, trocando dicas de seriados ou discutindo coisas sobre o Planalto Central, também magia e meditação. Que vão desabafar sobre sua vida amorosa com o garçom e se tornar eternamente responsável por lembrar o nome dele na próxima sexta.

Por isso, eu puxei a cadeira e me sentei à vontade quando fui convidada para fazer parte do Boteco 512. Se “bebida” é um substantivo feminino, nada mais justo do que vir contar sobre o dia a dia das mulheres nas mesas de bar. E se você, minha amiga, anda ocupada demais cuidando do seu jardim, porque ouviu essa lenda sobre atrair borboletas, sente-se aqui ao meu lado, encha o seu copo e vamos conversar. Esqueça essa besteira sobre jardinagem. Afetosverdadeiros não exigem esforço para cultivar. Além dos mais, se você gosta das suas flores, por que podá-las? E se você, meu amigo, é desses que acham que mulher que bebe é feio, tenho uma boa notícia: sou eu que vou pagar a minha conta depois da última saideira. E retocar o meu batom, é claro.

Sâmia Louise
Jornalista por formação e contadora de estórias por paixão. Na enquete sobre a maior invenção da humanidade, votou em cerveja e Doritos.

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